Vejo
Francisco como um escândalo positivo e necessário que abalou seu tempo e
continua impactando até hoje. Um modelo vivo do melhor que a humanidade
produziu nestes últimos oito séculos, um santo natural, caseiro e vizinho de
todos, com sua atraente simplicidade, com seu cristianismo de sedução, com sua
conquistadora humildade e uma vida que arrasta. É o simpático admirado
universalmente. Reuniu um número considerável de seguidores e seguidoras em sua
época que santificaram estradas e paisagens. Amou apaixonadamente Jesus Cristo
e seu Evangelho a ponto de ficar igualzinho ao Deus Encarnado, deixando que
este amor marcasse seu corpo com as chagas do Amado.
Vejo
Francisco como um asceta que abraçou a fraternidade de um modo pleno e cordial;
um cantor da criação, menestrel dos louvores mais puros ao Criador, uma
comunhão de afetividade e espiritualidade, um cultor da paz e do bem. Ele é a
estética do simples e o onipresente em tantas representações iconográficas. É o
santo dos pobres e dos pássaros, da cruz e do presépio, da eucaristia e da
poesia. É o santo dos caminhos e das grutas, das montanhas e das planícies, dos
nichos e catedrais. Um cavaleiro fiel da Senhora Dama Pobreza cheio de
fidelidade e gentileza. Um Sol de Assis, como diz Dante, e uma Clara Lua, como
diz seu lado mãe e irmã na Clara Flor de Assis, confidente e portadora de seus
contemplativos segredos. Um Mestre espiritual do Ocidente reverenciado no
Oriente, um profeta que atravessa a linha de guerra das Cruzadas e vai dialogar
com o sultão numa conversa de homens de têmpera e fé.
Vejo
Francisco como um mendigo despojado que possui a única riqueza essencial. Preso
em Perugia libertou seus sonhos. Abraçou leprosos, curando as podres cicatrizes
da exclusão. Tocou violino em galhos secos e dançou a alegria ridente e
luminosa dos que possuem a liberdade de espírito. Reconstruiu a casa da existência
calejando as mãos e cuidando dos pilares da alma. Brigou com o pai avarento e
reconciliou-se com a prodigalidade. Deu um salto de qualidade para ensinar que
conversão é mudar de lugar e não apenas câmbio de mentalidade. Vejo Francisco o
jeito mais gostoso de ser irmão, a sensibilidade de uma mãe, a parceria de um
compadre, a sempre presente energia de um amigo… Enfim, meu Pai Seráfico,
Mestre Espiritual a ensinar que ser do jeito de Jesus não é estar na prisão de
obscuras doutrinas, mas tornar fácil o caminho dos que vêm seguindo as
marcas da Boa Nova. Assim vejo, sinto e vivo Francisco.
Paz e Bem
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