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Jornada Franciscana de São Paulo celebra o Ano da Fé


Os franciscanos e franciscanas do Regional São Paulo da FFB (Família Franciscana do Brasil) se reuniram neste domingo (22/9), no Colégio das Irmãs Franciscanas de Ingolstadt, em Moema, para mais um encontro como acontece todos os anos no início da Primavera.

Tendo como pano de fundo a encíclica do Papa Francisco, Lumen Fidei, Frei Vitório Mazzuco desenvolveu o tema “O Jeito franciscano de viver a fé”, na perspectiva do Ano da Fé, que vai terminar no próximo dia 24 de novembro e está sendo celebrado desde o dia 10 de outubro do ano passado, quando foi convocado pelo Papa Emérito Bento XVI com a Carta Apostólica Porta Fidei.

Na verdade, o palestrante já introduziu o tema durante a homilia da celebração eucarística, às 8h30, quando foi o presidente, tendo como concelebrante Frei Anacleto Gapski, que é o coordenador regional da FFB, e os diáconos Rogério Luiz Soler e Luís Carlos da Silva.

O encontro reuniu a Primeira Ordem, a Ordem Franciscana Secular, franciscanos e franciscanas de diferentes institutos e congregações, a Jufra e simpatizantes de São Francisco e Santa Clara. Destaque para a presença de um grupo formado de duas fraternidades da OFS de Mogi das Cruzes, que participou pela primeira vez da Jornada, e para o casal Hélio e Sandra, que veio do Rio de Janeiro.

Antes de iniciar a sua reflexão, que tomou toda a manhã, Frei Vitório não se esqueceu de desejar a todos os presentes uma “Feliz Primavera” e lembrou que “Deus pede para que a gente floresça onde estiver”.

Logo no início, Frei Vitório provocou os participantes: “Vocês acham que São Francisco tinha fé em Jesus Cristo?” Todos responderam: “Tinha!”. Mas o palestrante corrigiu: “Vocês sabem que estamos um pouco enganados: ele não tinha a fé em Jesus Cristo!”, disse, para espanto de todos.
“Ele tinha a fé de Jesus Cristo!”, complementou, acrescentando. “Não dá uma diferença? Não se esqueçam disso. Este é o jeito franciscano de ter a fé de Jesus Cristo”.

Segundo o frade, que é professor do Instituto Franciscano de Teologia, em Petrópolis, para iluminar sua afirmação poderia citar trechos das Fontes Franciscanas, que mostram isso o tempo todo, mas ele convidou os participantes a cantarem com ele a canção de Pe. Zezinho: “Amar como Jesus amou/ Sonhar como Jesus sonhou/ Pensar como Jesus pensou/ Viver como Jesus viveu/ Sentir o que Jesus sentia/ Sorrir como Jesus sorria/ E ao chegar ao fim do dia/ Eu sei que dormiria muito mais feliz”.  E Frei Vitório frisou:  “É isso: ter a fé de Jesus, como São Francisco nos ensina. Então, cada vez que se lembrarem disso, lembrem desta canção. Ela é mítica. Parece tão simples, mas a fé vem da nossa infância mesmo!”.

A partir das Fontes Franciscanas, Frei Vitório mostrou como Francisco vai construindo seu edifício da fé a partir da conversão na Igrejinha de São Damião, onde está o Crucifixo de São Damião, o grande ícone da fé.
 
Alguns pontos da palestra:

“São Francisco ensinou para nós que, no meio daquela fragilidade e ruínas, ele buscou soluções no fervor da fé. Há certos momentos em que precisamos entrar no espaço até das nossas fragmentações. Isso que São Francisco ensina para nós. Ele vai até a Igrejinha, diante do Crucifixo, e faz, então, a sua oração-força”, disse, pedindo que repetissem a oração de Francisco: “Altíssimo e Glorioso Deus, iluminai as trevas do meu coração. Dai-me uma fé reta…”.

Frei Vitório enfatizou que no início de sua conversão, em 1204, Francisco compôs essa oração pedindo a iluminação e, só no Testamento, no final de sua vida, ele vai fazer a grande profissão de fé: ‘O Senhor me deu tão grande fé nas igrejas; o Senhor me conduziu aos leprosos; o Senhor me revelou; o Senhor me deu irmãos’. “Essa profissão de fé não foi escrita nos primórdios da experiência, mas lá no final. Então, o dom da fé que pedimos, é o dom conquistado”, assinalou.
“Francisco ensina para nós que o cristianismo não é uma religião do esforço para alcançar Deus, mas é a graça de perceber que ele já está muito perto de nós. Ele tem esse encontro da paixão com Senhor. Ele vai sentir isso. Para Francisco, fé não é professar o Credo, mas é sentir Deus. Ele nunca se afastou da fé que tinha na Igreja e nas suas verdades. Mas ele sentia Deus na existência”, destacou.
“A fé em São Francisco é uma fé decidida. Fé em São Francisco é responder ao dom que o Senhor vai me oferecendo. E perceber que nessa presença ele se dá”.

Segundo o professor do ITF, às vezes ligamos a fé aos percalços da nossa história e com São Francisco não foi diferente: “A experiência diante da Cruz foi um momento difícil na vida dele. Mas até os momentos difíceis da nossa vida sempre concorrem para o bem maior. No meio da ruína, vamos encontrar um crucifixo em pé e que levanta a gente!”.

Frei Vitório disse que a fé é uma adesão à vontade de Deus e lembrou que a raiz da palavra fides (fé) é a mesma da palavra fidelidade. “Então, fé e fidelidade não se separam. Como fé, digo ‘eu creio’; como fidelidade, digo ‘não vou me afastar’”, explicou, ressalvando: “Só que há muitos testemunhos de fé de pessoas que, no fundo, falam delas mesmas. Mas não dão testemunho do amor de Deus.

Onde está Deus? Tem que fazer o amor aparecer”.

O modo de ser da fidelidade é o modo daquele que ama e, portanto, daquele que crê, acrescentou o frade.

Ele enfatizou que é preciso “sempre agir através de uma relação de fé com o Senhor”, como fazia Francisco, o “homem feito oração”, segundo  Tomás de Celano. Frei Vitório explicou que Francisco reza transformado em oração. “Por quê? Porque ele se deixa iluminar pelo espírito”, respondeu.
No final, Frei Vitório dedicou boas reflexões ao tema “fé e fraternidade”.

Citou o Testamento de Francisco quando ele diz: “O Senhor me deu irmãos”.  “Olha isso é maior desafio da fé. Para ser vivida e compreendida adequadamente, nós temos que ter um olhar de fé sobre a fraternidade e sobre os irmãos”.

Mas nem sempre isso acontece e os problemas falam mais alto. Segundo o palestrante, é por que não olhamos para a fraternidade com os olhos da fé.  “A Fraternidade só pode ser compreendida na perspectiva da fé porque a fraternidade aconteceu por iniciativa do próprio Deus.  A primeira Fraternidade aconteceu quando o Verbo se fez Carne. Deus quis estar conosco. Então, a Fraternidade é a nossa divina inspiração”, observou.

Mas se a Fraternidade nos insere na mesma inspiração, por que nós brigamos, perguntou. E a resposta foi simples: “Porque não temos fé. Só isso! O egoísmo saltou fora”.
Frei Vitório, a propósito, convidou a todos a lerem a Carta de Diogneto, escrita por um cristão, de nome e origem desconhecidos,  na segunda metade do século segundo, a um pagão chamado Diogneto. Em poucas linhas, ele mostrou as principais características dos seguidores de Jesus de Nazaré. A grande mensagem dela: vocês têm obrigação de ser luz lá onde estão.

“Essa é a grande dimensão evangelizadora nossa: Lumen Fidei. Anunciar uma experiência de fé”, conclamou.

Para o palestrante, Francisco quer que todas as experiências tenham a luz do Espírito. “Todas as nossas experiências podem ser espirituais. Nós, estarmos aqui neste domingo, é uma experiência espiritual. É uma experiência de fé. A fé não é uma abstração. Ela transforma o tempo em algo eterno”, disse.

À tarde, depois de um almoço comunitário, a Jornada Franciscana teve a representação de um teatro feita pela Fraternidade de Porto Feliz.

Fonte: www.franciscanos.org.br




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