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Especial: Nossa Senhora Aparecida - Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida

Liturgia do dia

Evangelho

Nossa Senhora da Conceição Aparecida

1ª Leitura: Est 5, 1b-2; 7-2b-3
Salmo: 44
2ª Leitura: Ap 12, 1.5.13a.15.16a
Evangelho: Jo 2,1-11

Vida nova para os homens -* 1 No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia, e a mãe de Jesus estava aí. 2 Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos.

3 Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: «Eles não têm mais vinho!» 4 Jesus respondeu: «Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou.» 5 A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: «Façam o que ele mandar.»

6 Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus. 7 Jesus disse aos que serviam: «Encham de água esses potes.» Eles encheram os potes até a boca. 8 Depois Jesus disse: «Agora tirem e levem ao mestre-sala.» Então levaram ao mestre-sala.

9 Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo 10 e disse: «Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora.»
11 Foi assim, em Caná da Galiléia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele. 12 Depois disso, Jesus desceu para Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. E aí ficaram apenas alguns dias.

* 2,1-12: Segundo João, a primeira semana de Jesus termina com a festa de casamento em Caná. João relata este episódio por causa do seu aspecto simbólico: o casamento é o símbolo da união de Deus com a humanidade, realizada de maneira definitiva na pessoa de Jesus, Deus-e-Homem. Sem Jesus, a humanidade vive uma festa de casamento sem vinho. Maria, aliviando a situação constrangedora, simboliza a comunidade que nasce da fé em Jesus, e as últimas palavras que ela diz neste evangelho são um convite: «Façam o que Jesus mandar.» Jesus diz que a sua hora ainda não chegou, pois só acontecerá na sua morte e ressurreição, quando ele nos reconcilia com Deus.
Jesus utilizou a água que os judeus usavam para as purificações. Os judeus estavam cegos pela preocupação de não se mancharem, e sua religião multiplicava os ritos de purificação. Mas Jesus transformou a água em vinho! É que a religião verdadeira não se baseia no medo do pecado. O importante é receber de Jesus o Espírito. Este, como vinho generoso, faz a gente romper com as normas que aprisionam e com a mesquinhez da nossa própria sabedoria.

O episódio de Caná é uma espécie de resumo daquilo que vai acontecer através de toda a atividade de Jesus: com sua palavra e ação, Jesus transforma as relações dos homens com Deus e dos homens entre si.


Bíblia Sagrada – Edição Pastoral


Comentário

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil


A liturgia de hoje é marcada pela idéia da intercessão de Maria, padroeira principal do Brasil. A 1ª leitura lembra a intervenção da rainha Ester junto ao Rei Assuero em favor do povo judeu, ao qual ela mesma pertencia. Ao mesmo tempo, menciona-se a graciosa beleza desta “flor de seu povo”. O evangelho é escolhido em função da idéia da intervenção de Maria no milagre do vinho, nas bodas de Cana. Convém observar que Maria aí aparece como a “senhora – mãe” – o tratamento hebraico “Mulher” significa isso -, que se sente responsável pelo que diz respeito à sua família: a presença de Jesus e seus amigos a fez sentir-se responsável pelo abastecimento de vinho.

Ora, este evangelho não é propriamente mariológico, mas cristológico. Mostra Jesus dando início aos sinais da sua grande obra (Jo 2,11), antes que se realize a sua “hora” (cf. 2,4). A abundância de vinho é um sinal de que Jesus vem cumprir a missão messiânica (cf. a abundância de vinho no tempo messiânico, Am 9,13-14 etc.), mas esta missão só é levada a termo na “hora” da morte e glorificação (cf. Jo 13, 1ss; 17,5 etc.).

Temos aqui um ensejo para explicar o sentido do costume de pedir “graças” a Deus pela intercessão de N. Senhora. Geralmente, pedem-se benefícios materiais. Mas Deus e Maria não têm como tarefa específica resolver nossos problemas materiais. As graças materiais são apenas sinais de que Deus nos quer bem. Ora, ele nos quer bem sempre, também no sofrimento e na ausência de benefícios materiais! Por outro lado, nem todo benefício material pode ser interpretado como sinal do bem-querer de Deus, pois há muita gente materialmente bem provida cujo coração está longe de Deus! Reflitamos, pois, a partir do presente evangelho, sobre o sentido do pedir graças mediante a intercessão de N. Senhora. Em Caná, Maria pede uma intervenção material, e esta se realiza, porém não como um fim em si, mas como sinal da grande obra do Cristo, sua morte, na “hora” que naquele momento ainda não havia chegado (2,4). Assim também, o que nós pedimos pela intervenção de N. Senhora, sendo atendidos conforme o pedido ou de outro modo, se toma sinal do amor até morrer, que seu Filho nos dedica. É assim que devem ser interpretadas as preces de súplica: “Dai-nos, Senhor, um sinal de vosso amor?”.

A idéia da intercessão, na presente liturgia, concerne sobretudo à Pátria brasileira, portanto, uma realidade histórico-material. Pode-se pedir a Maria que ela cuide para que a ninguém faltem as condições para viver dignamente. Mas que neste pedido, então, se traduza também a disponibilidade para colaborar e participar no grande testemunho de amor que Cristo iniciou e assinalou por seu primeiro “sinal” em Caná. Ou seja, que os pedidos exprimam a vontade de colaborar no reino de paz e amor, o meio mais seguro para fazer acontecer a realização do que pedimos. Se pedimos bênçãos pela Pátria, devemos estar dispostos a nos tornar instrumentos daquilo que pedimos (integração de todos numa sociedade justa e fraterna etc.).

A 2ª leitura é a mesma da festa da Assunção. Pode-se destacar o papel protetor que a Mulher – simultaneamente Igreja e Maria – exerce com relação ao Filho messiânico. Que a Igreja se lembre, portanto, que a intuição da fé, aplicando esta leitura a Maria, viu a semelhança no papel de ambas. Gerar e levar o Salvador ao mundo, e presenciar sua vitória, eis o que Maria e a Igreja têm em comum. Destacando a figura de Maria, a Igreja assume, até um certo grau, o que foi a obra de Maria. Isso vale também com relação à proteção da Pátria, que não é algo mágico, mas algo que se realiza mediante as nossas mãos, nosso empenho por uma Pátria melhor, mas justa, mais conforme à vontade de Deus.

A aclamação ao evangelho e o canto da comunhão aludem também à função “patrocinadora” de Maria.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Mensagem

Maria, Mulher-povo, mãe da Igreja


Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil. O povo a chama simplesmente de N. Senhora Aparecida. Aliás, para a “Imaculada Conceição” temos outra festa, em 8 de dezembro. Mas vale a pena, apoiados na liturgia, estabelecer um nexo entre a eleição de Maria desde a sua concepção e seu papel de intercessora, em virtude do qual ela aparece como padroeira do nosso povo. A 1ª leitura de hoje destaca o papel da intercessora, mediante a figura bíblica da rainha Ester, que intervém junto ao rei por seu povo, Israel. Na 2ª leitura a Mulher-Povo do Apocalipse protege seu filho messiânico. No evangelho aparece com maior clareza o papel mediador de Maria a favor do povo.

É o evangelho das bodas de Caná. Maria presencia uma festa de casamento, e também Jesus e seus companheiros. Quando falta vinho, Maria chama a atenção de Jesus para o impasse. E quando Jesus, misteriosamente, responde que ainda não chegou a sua hora – pois a sua hora mesmo é a da cruz – Maria não deixa de acreditar que Jesus transformará as bodas deste mundo em festa messiânica e plena alegria, vinho novo do tempo novo. Recomenda aos servidores que executem o que Jesus lhes disser. Talvez às cegas, mas confiante no projeto de Deus e no filho que Deus lhe deu, Maria assume sua missão de confiar o mundo a ele.

João, no seu evangelho, menciona Maria apenas duas vezes, aliás, sem chamá-la Maria, mas Mãe de Jesus e Mulher. A primeira menção é quando ela por assim dizer introduz Jesus na sua atividade pública, nas bodas de Caná. A outra é quando ela acompanha Jesus até o fim, ao pé da cruz. No primeiro texto, Jesus diz que sua hora ainda não chegou; é apenas o início dos sinais. O outro texto é quando se realiza “a Hora” de Jesus e sua obra é levada a termo, na cruz. Em ambos os textos, Jesus se dirige a Maria com o tratamento honroso de “Mulher” (nós diríamos: “Senhora”) – termo muitas vezes ligado à imagem do povo. A primeira vez, Jesus pronuncia a perspectiva da hora que deve vir, a segunda vez, confia à sua mãe o seu legado: o discípulo amado, que representa os fiéis. Maria está no início e no fim da obra de Jesus. Ela, a Mulher, a Mãe, é a referência de sua obra. Maria marca o lugar de Jesus neste mundo e está aí como referência do discípulo que toma o lugar do seu Filho.

Maria, Mãe da Igreja.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

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