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Reforma elimina cupins da Igreja das Chagas
Lacrado no ano passado por causa do risco de ruir, prédio histórico no Largo São Francisco também terá o telhado recuperado nos próximos meses
01 de maio de 2009 | 0h 00


Vitor Hugo Brandalise - O Estadao de S.Paulo
Na manhã de 16 de março, um grupo de operários, ferramentas em punho, saltou pronto para trabalhar de uma Kombi no pátio da Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, no centro de São Paulo. A cena, corriqueira, acabou alçada à categoria de milagre - naquele dia, o grupo começou a primeira reforma da igreja construída em 1787, com capela projetada por Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. "Foram 17 anos de luta, desde o primeiro pedido de reforma, só para ver esse pessoal chegar à igreja", conta o ministro João Azarias de Sobral, responsável pelo templo. "Foi como presenciar algo impossível, um milagre mesmo. Finalmente recebemos alguma atenção."
Com infiltrações em toda a estrutura e infestação por cupins, a Igreja das Chagas, como é conhecida, foi lacrada pela Prefeitura em fevereiro do ano passado, sob risco de ruir. A reforma emergencial, iniciada em março, foi detalhada nesta semana no Diário Oficial do Estado: terá prazo de seis meses para ser finalizada, custo de R$ 140.995,36 e priorizará recuperação do telhado e escoamento das águas da chuva, com substituição de canalização subterrânea. Os custos serão responsabilidade do Estado, conforme compromisso assumido em 2006 por decreto do então governador Cláudio Lembo (DEM). A igreja é tombada nas esferas estadual e municipal.
Como parte da reforma iniciada em março, duas paredes foram escoradas, começou a canalização externa, o assoalho do piso superior foi retirado para avaliação da madeira. O processo emergencial de descupinização intensiva, supervisionado por técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), também chegou ao fim. "Agora teremos de fazer tratamento por cerca de oito anos para nos livrarmos de vez dos insetos", conta Sobral.
O conserto do telhado, que não passa por reformas desde 1932, começará ainda neste semestre. Depois, provavelmente a partir de setembro, será iniciado o restauro da fachada e da área interna da igreja - o primeiro, em 222 anos de história -, com prazo de até cinco meses para conclusão.
O restauro completo, cujo projeto já foi iniciado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico do Estado (Condephaat), ainda não tem valor confirmado. Na estimativa da Ordem, porém, deve custar cerca de R$ 16 milhões. "A satisfação de ver salva uma construção que temíamos até mesmo que caísse é enorme", diz, emocionado, Antônio Joaquim Ribeiro, responsável pela manutenção e limpeza da igreja - até mesmo nos piores dias, quando tinha de varrer a sujeira deixada pelos cupins até duas vezes por dia. "Sinto, finalmente, que o trabalho valeu a pena."
Em mais de dois séculos, a Igreja das Chagas foi acumulando valiosos objetos históricos. São 42 quadros com motivos religiosos - entre eles, de José Patrício, expoente das artes no Brasil Colônia -, dezenas de estátuas, restos mortais de personagens históricos (como o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar), livros de religião e atas de conselhos realizados desde 1760.
A fim de divulgar esses objetos - hoje abarrotados em armários empoeirados, salas escuras e pouco ventiladas, ou nas paredes da nave principal da igreja, sob precárias condições -, a Ordem Terceira pretende construir um museu em oito salas do piso superior. "Essa igreja é uma sala de aula. Num futuro próximo, depois de tanto tempo lutando por melhorias, esperamos mostrar direito o que guardamos aqui", resume Sobral.
FRASES
João Azarias de Sobral
Responsável pelo templo
"Foram 17 anos de luta, desde o primeiro pedido de reforma. Foi como presenciar algo impossível, um milagre mesmo. Finalmente recebemos alguma atenção"
Antônio Joaquim Ribeiro

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