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No coração do minorismo


O texto que colocamos na mão de nossos leitores e nossas leitoras e que aborda uma faceta da espiritualidade evangélica e clariana, ou seja, o minorismo, é quase tradução de  artigo publicado na revista espanhola    Vida Religiosa  (1994) p. 206-213: Clara de Asís. En el corazón de  la minoridad, de  Daniel Elcid. O autor descreve com beleza e profundidade a trajetória de Clara, nossa irmã.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Esta é uma reflexão sobre Santa Clara sob o prisma do minorismo. Toda a vida dessa mulher se passa sob o signo da simplicidade e da discrição.  Tudo é simples, ela é uma irmã menor. A vida inteira de Clara é vida de amor e, particularmente, vida de amor numa postura num espírito de serviço.

Em Francisco e Clara, “minorismo” não deve ser entendido como categoria social (nobres e plebeus). Minorismo quer dizer um modo evangélico de viver. Quando Francisco afirmava categoricamente que os seus irmãos iriam chamar-se de “menores”, tinha consciência que esse apelativo lhe havia sido revelado por Deus. Desde o começo colocou-o nos mais primitivos esboços de Regra que andou fazendo. O Poverello tinha bem em mente a passagem do Evangelho: “Aquele que quiser ser o maior entre vós, faça-se o menor” (Lc 22, 26). “O menor no reino dos céus, esse será o maior”  (Mt 11,11).  Com Francisco nasceu na Igreja uma das mais nítidas formas “do espírito de infância” do Evangelho.  Clara, por sua vez, o “feminizou”. Nem por isso, Francisco perdeu seu jeito cortês, nem clara os vestígios da aristocracia. Os dois simplesmente sobrenaturalizaram caráter e temperamento. Clara renunciou real e radicalmente à estirpe do sangue – real e radicalmente também – a  aristocracia do espírito. Nela minorismo e elegância não se excluem, adquirem novo e ótimo sentido, humana e divinamente.

Os núcleos vitais de Clara são poucos. Podem ser reduzidos a três: pobreza, fraternidade e  contemplação.  Estas páginas, na verdade, não constituem um estudo sobre o minorismo de Clara, mas uma breve apresentação da Irmã menor que ela foi. Mais uma!

Descendo rumo à pobreza real

Pela manhã houve festa na catedral. À noite a festa foi na Porciúncula, naquele março de 1212. As coisas não começaram ali.  Já haviam passados meses e anos. Deus foi tentando juntar dois caminhos  que pareciam divergentes:  um jovem burguês que havia lutado militarmente contra a nobreza da cidade e de uma jovem da alta linhagem de Assis. Ele, Francisco, feito pobre e mendigo por  Cristo e  Clara que, além de nobre, era rica e formosa. O coração de Clara se deixou arrebatar pela loucura de Francisco. “Pouco depois da conversão de Francisco, o Senhor se dignou por sua misericórdia e graça, iluminar meu coração”. Durante mais de um ano Clara guardou esse segredo como só sabem fazer os enamorados. Na Porciúncula,  Francisco esperava  por Clara, o mais novo membro de sua família.  Naquela noite, Clara veio acompanhada de sua mais fiel amiga, Bona de Guelfuccio. Pelos caminhos, entre árvores, talvez os dois conversassem. Quem sabe Francisco veio acolhê-la ainda no caminho. Entre o desfilar das árvores os dois dialogavam. Dialogavam como fazem os enamorados, dizendo sempre as mesmas coisas. Atenção! Eles não falavam sobre si mesmos.  “Francisco a exortava sempre a que se voltasse para Jesus Cristo”,  atestou  Quer dizer que se convertesse, como ele, à pobreza evangélica onde ele, Francisco, havia  encontrado liberdade, alegria e amor. O amor a Jesus Cristo. Clara suspirava por esse amor. Estava disposta a tudo perder para viver uma tal entrega. Caminhos secretos e colóquios ardorosos amadureceram  a grande decisão.

Pela manhã houve festa na Catedral, no Domingo de Ramos de 1212. Clara assistiu a tudo com suas belas toaletes. Belamente vestida em sua exuberante juventude, como vestida de noiva para o Amor mais ideal. Aconteceu algo inusitado. Todos foram chegando perto do degrau inferior do presbitério para receber o ramo de palma das mãos do Bispo ou por ele abençoada.  Clara, absorta em seu amor interior, não se mexeu do lugar onde estava.  O bispo Guido conhecedor do segredo desta divina abstração, desceu os degraus, foi na direção de Clara e colocou a palma em suas mãos diante dos olhos admirados e curiosos de todos.  Clara, feliz mas ruborizada, considerou o acontecido como um prelúdio preparado por Deus, alguma coisa que não estava no programa.

À noite aconteceu festa na Porciúncula. A façanha tinha sido planejada por Francisco, com pleno acordo de Clara, e com a bênção do senhor À noite quando todos dormiam na casa-palácio dos  Offreduccio,  Clara havia tratado dom  Pacífica, irmã de  Bona. Saíriam pela porta dos mortos, por onde só passavam os cadáveres. Numa volta do caminho a esperavam os companheiros de Francisco que as guiaram até a Porciúncula. Em Santa Maria dos anjos houve o rito inesquecível e sem condições de ser repetido. Clara despojou-se de suas vestes de gala. Francisco cortou os cabelos da jovem e a revestiu com uma túnica simples com um cordão na cintura, um manto de tecido pobre e na cabeça um véu escuro e simples, sinal de consagração  esponsal ao Senhor, naquela noite, naquela pequena família de irmãos menores, nascia a primeira irmã menor.

“A façanha, além disso, foi simbólica descer a ladeira empinada do Subásio para um lugar na planície, foi mais do que uma fuga romântica durante a noite: foi lançar-se heroicamente de um estado para outro, da riqueza para a pobreza, da nobreza para a humildade, da aristocracia para um estilo simples de viver. Foi também  encontrar a verdadeira riqueza e com a mais alta nobreza de espírito A alegria daquela decisão  durou a vida toda. Aquela que pelo  sangue pertencia ao partido dos “maiores”,  passava para sempre para  os lado  dos “menores evangélicos”.

A primeira coisa que fez, enquanto pode, foi vender a herança que lhe tocava e sem reservar nada para si, a distribuiu entre os pobres. Mesmo com exigências da família Clara deu a herança  aos pobres.

O Senhor a fez fecunda de numerosas imitadoras, muitas delas da mesma esfera social sua, começando a Ordem das irmãs pobres com um estilo de vida semelhante ao de Francisco e os seus. Francisco se alegrou com o gênero de viver das irmãs: “Vendo o bem-aventurado Francisco  que nós, embora frágeis e fisicamente sem forças, não recusávamos  nenhuma privação, pobreza, trabalho, tribulação  nem humilhação e desprezo do mundo e até julgávamos  tudo isso as maiores delícias, como pôde comprovar frequentemente em nós, a exemplo dos santos e do seus frades, alegrou-se muito no Senhor” (Test de Clara).

Tal plenitude de júbilo tinha como mola o amor, e este amor – este enamoramento tinha nome e sobrenome: “Jesus Cristo pobre e crucificado”. Tudo se fazia por amor a este Senhor que foi colocado  pobre no presépio, pobre viveu e nu foi levado ao patíbulo”. Francisco alimentou essa chama de amor enquanto pode  por meio de seu exemplo e de suas palavras.

“Visto que por divina inspiração vos fizestes filhas e servas do Altíssimo e sumo Rei, o Pai celeste, e desposaste o Espírito Santo, escolhendo viver segundo a perfeição do  santo Evangelho, quero e prometo, por mim mesmo e por meus irmãos, ter sempre por vós  um diligente cuidado  e especial solicitude, assim  como tenho por eles” (Forma de vida  para Santa Clara).

“Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e perseverar nela até ao fim; e rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos o conselho para que vivais  sempre nesta santíssima  vida e pobreza. E estai muito atentas para, de maneira alguma, nunca vos afastardes dela pela doutrina ou conselho de alguém” (Última vontade escrita para Santa Clara).

Clara guardava esses escritos como se fossem mais preciosos que o ouro e os incorporou à Regra. Os dois bilhetes de amor se resumiam num apelo à busca da perfeição, da santidade.  Clara e suas irmãs, enamoradas pelo Cristo pobre, fizeram o desponsório com o Rei dos Reis, sentado no trono das estrelas.

No âmbito da fraternidade franciscana

No léxico franciscano há dois substantivos chaves: minorismo e fraternidade. Prefiro fraternidade a minorismo. Franciscamente sendo irmão sou servo de meus irmãos. Foi o que se passou com  Francisco e Clara.  Não pretendiam eles inicialmente fundar uma Ordem.  Deus deu irmãs a Clara e foi surgindo a realidade calorosa da fraternidade, foram se multiplicando essas fraternidades  a ponto de ir se constituindo  uma grande família espiritual. Clara não fundou nada.  Jamais se designou fundadora.  Para ela o fundador e plantador fora sempre Francisco e ela, com gosto, se designava de sua plantinha. “Plantinha” de São Francisco:  próprio e belo  nome com que Clara batizou  seu minorismo.

Evidentemente, Clara passou para a história como verdadeira mãe da fraternidade franciscana feminina. Foi mãe antes de ser abadessa, cargo e título que teve que aceitar por imperativo jurídico e a instâncias persistentes de Francisco.  Tal aconteceu três anos depois de estar exercendo com naturalidade, sem discussão  a “função” de irmã-madre. A partir de então, preferiu usar a expressão “vossa abadessa e mãe”.  Mas a sua última palavra testamentária – como sua assinatura e rubrica final  –  é “vossa mãe e serva”.

Todo seu esforço foi o de criar fraternidade: “mostrem-se sempre as irmãs preocupadas em manter entre si a unidade do amor mútuo”, “amando-se mutuamente” com a caridade de Cristo”, mostrando exteriormente o amor íntimo que alimentam para com todas as irmãs. Seu primeiro  biógrafo  afirma que Clara formava as irmãs  com método certo e delicado amor, especialmente mediante reuniões semanais  de toda a comunidade, momento em que deliberavam  sobre todos os assuntos. “Muitas vezes o Senhor revela à menor o que é mais conveniente”.

Sim, Clara foi uma irmã-mãe e uma mãe-irmã: deitadas e já adormecidas as irmãs no grande dormitório, Clara se levantada discreta e escondidamente e observava cada cama e cobria com carinho as que na inconsciência do sono estavam descobertas para que não viessem a ter resfriado; era complacente  com aquelas que por um motivo ou por outro  tinham dificuldades com o rigor da vida comunitária e fazia assim para que as irmãs ficassem contentes. Quando notava que algumas demonstravam tristeza tomava-as à parte e sondava o motivo de tal tristeza  “consolava a ponto e chorar com elas”. As melancólicas, hoje diríamos as estressadas,  levava-as a um lugar separado, ajoelhava-se a seus pés com o intuito de tomar para si  sua melancolia  e levantava o seu ânimo  com maternais carinhos;  com as enfermos chegava quase a se desmanchar e aquilo que ela fazia transformou em lei na Regra que escreveu:  indagar por si mesma ou por outras irmãs  o que seria útil para aliviar seu sofrimento.

Esta fraternidade materna de Clara e das suas irmãs tornou-se muito dinâmica. Com expressões da bula de canonização  “vivia fechada no estreito espaço claustral de São  Damião, mas os raios da comunidade iluminaram para fora” convertendo os muros do convento em paredes transparentes, sim, vidros transparentes e assim iluminando o mundo.  Não somente multiplicando o número de mosteiros (no momento de sua morte já existiam na Europa mais de cem) mas atraindo pessoas a São Damião, pessoas que vinham pedir oração confiando na eficácia da oração daquelas santas irmãs:   pessoas de toda idade e todas as classes sociais, clérigos e cardeais e até mesmo papas. O próprio Francisco se conectava com Clara e suas irmãs buscando a luz divina nos momentos de crise. E o Papa Gregório IV chegou a considera-la “a mãe de sua salvação”.

Humildade pessoal

Este parágrafo é simplesmente complemento dos anteriores. Se a pobreza e a fraternidade  marcaram o desenvolvimento clariano do minorismo, a humildade constitui o seu miolo mais íntimo: só é evangelicamente menor aquela pessoa que é humilde;  somente a humildade forja  evangelicamente o minorismo, somente ela cria fraternidade evangélica, isto é, com desaparecimento do ego.

Desta maneira foi humilde Francisco e também do mesmo modo Clara, os dois “no seguimento da pobreza e da humildade  do amado Filho de Deus e da gloriosa  Virgem Maria, sua Mãe”.  Os exemplos são numerosos demais nas Fontes. Tomemos uns poucos:  mandava as irmãs executarem alguma coisa sempre com muito respeito, a maior parte das vezes fazia o que precisasse ser feito sem mandar as irmãs;   servi-as com gosto e carinho; lavava seus pés, limpava os vasos das doente.

O autor do artigo destaca um caso narrado no Processo de Canonização. Aconteceu com uma das irmãs externas.  Quando estas voltavam  Clara tinha o hábito de lavar-lhes os pés e, como final do rito, beijá-los. Certa vez, a que tinha sido lavada, no momento em que Clara ia beijar seus pés não suportou tanta  humildade, retirou bruscamente o pé e tocou o rosto da abadessa com o pé.  Clara se regozijou e tomando o pé no ar, beijou-o.  Clara realizava uma ação simbólica  que poderia colocar-se ao lado de tantas outras ações.  Com esse beijo, ajoelhado e afetuoso,   colocou como que o selo de sua característica  firmeza de “mulher-mulher” a serviço de sua humildade e de seu amor, de seu minorismo. Era sua assinatura.

Nos píncaros da contemplação enamorada

No parágrafo anterior comentamos  o dinamismo da humildade de  Clara “para baixo”, para com as irmãs. Agora o autor do artigo pretende examinar a humildade de  Clara para cima, seu minorismo diante do Sublime, sua vida altamente contemplativa.

Afirmemos logo que esta grande contemplativa contemplava Deus  no mais elevado e no mais baixo. O Altíssimo Pai celestial  esteve como luz  suprema no começo de sua vocação e durante o curso de sua vida como o outorgador de toda graça, como meta suprema de sua vida. Queria que ela e suas filhas chegassem até o trono da gloria do grande Deus. Como seu pai e modelo  Francisco  cantava  ao “Altíssimo Onipotente  e Bom  Quando enviava irmãs para a coleta de alimentos pedia que observassem as árvores bonitas e frondosas e louvassem a Deus. Quando vissem os homens também  louvasse a Deus pelas coisas boas que eles fazem. Clara  conheceu e viveu a contemplação  do Absoluto, do Deus Uno em três pessoas e o Espírito.   Tinha a Trindade bem presente em sua vida, mesmo quando trabalhava.  Tanto é assim que escreveu na Regra  essa norma franciscana: “de modo que o trabalho não extinga o espírito da santa oração e devoção a serviço  do qual devem estar todas as coisas temporais”. O relacionamento fixo e fundamental de Clara com  Deus  era de filha com o Pai, da criatura com seu Criador, da devota diante  do Sublime. No Processo se diz:  “Permanecia  muito tempo  prostrada por terra”. Tinha o rosto iluminado quando saia da oração. As irmãs se alegravam como se ela estivesse vindo do céu. Irmã  Benvinda de Perusa chegou a ver em  Clara um halo de luz.

Clara viveu a contemplação do Absoluto nessa dimensão tridimensional  que é o  mistério do Pai  do Filho e do Espírito Santo. Deve-se, no entanto, afirmar sem receio que para ela o mistério  de Deus se reduzia e como que se concentrava  na contemplação “daquele  Filho do Altíssimo que a Virgem deu a luz”, seu “Jesus pobre e crucificado”: em seu minorismo mais radical  ela se humilhava diante de Deus,   ante o Deus aniquilado na encarnação e na paixão. Muitos de seus textos espirituais  que começam com uma breve menção de Deus  terminam na contemplação do  Cristo pobre e crucificado, como se o imenso Sol da divindade se refletisse  com toda claridade no pequeno espelho   do “Filho do Altíssimo e da gloriosa Virgem”. A imagem do espelho foi certamente a mais feliz e perfeita de suas criações literárias. Esse espelho que ela olhava continuamente,  compunha-se de três refrações: na parte inferior o “Rei dos anjos reclinado no presépio” no centro “ os muitos trabalhos  e sofrimentos que suportou para a redenção  do gênero humano” e na parte superior  “seu inefável amor ao padecer livremente no lenho da cruz  e nele morrer com a morte mais infame. Seu método? Olhar, meditar, contemplar.   Talvez dissesse: “Não te esquecerei  jamais, minha alma agonizará dentro de mim”  (Lamentações  3,20):amor por Amor, aniquilamento por Aniquilamento.

Assim como o acontecimento do Alverne constituiu o cume místico da vida de Francisco, com a estigmatização, pode-se dizer que para Clara foi um Tríduo santo. Desde o anoitecer da Quinta-feira santa até a noite do sábado, no lugar habitual de sua oração, permaneceu absorta, alheia a si mesma e a tudo com um olhar  inefavelmente perdido. Uma de suas  filhas,  sua parenta,  entrou onde a Madre estava e testemunhou que ela estava alienada. Até que no sábado,   já de noite,  não pode  mais e acercou-se no rosto de Clara com uma vela acesa  e exigiu que voltasse a si em obediência a São Francisco  que lhe havia ordenado de não passar um dia sem comer.  Clara como que voltando de outro mundo, exclamou:

- Para que esta vela acesa?  Estamos de dia, não é?
– Madre, respondeu a irmã sua parenta –  foi uma noite, passou-se um  dia inteiro e chegou outra noite.
-Bendito seja este sonho, filha amada, porque foi concedido o que eu tanto havia aspirado. Enquanto eu viver não conte a ninguém.

Foi um sonho pascal. Talvez essa monja parente tenha sido Irmã Amada, sua sobrinha, que  Clara havia conquistado  para o amor do Crucificado na flor de sua juventude quando esteve em São Damião para notificar à tia  seu casamento com um cavaleiro.  Esta mesma Irmã Amada  que numa outra noite de sexta  para sábado, a última semana de Clara nesta terra, ouviu sua santa tia  perguntar-lhe,  imersa  no mistério radiante de outro êxtase:  “Não vês o que eu estou vendo? O Rei da glória?”

Estava aniquilada de gozo diante do seu amor crucificado e glorioso

Até o fim

Assim viveu, assim morreu. Poderíamos descrever a sua morte  como o ocaso esplendoroso  de uma contemplativa  “menor” e o foi em todos os pormenores,  preciosos pormenores.  Contentar-me-ei com um só,  como uma pérola final.  Em uma de suas últimas noites agônicas, Clara profere surpreendentemente estas palavras: “Vai segura, porque tens uma boa escolta para o caminho. Aquele que te criou antes de te criar previu que  te santificaria.  Logo que te criou derramou em ti o Espírito  E cuidou de ti como uma mãe cuida do seu pequenino”.

- Com quem estás falando, Madre? Para quem estás dizendo  estas palavras?
– Falo com minha alma bendita.

Falava consigo mesma, esta bendita mulher de sessenta anos, contemplando todo o curso de sua vida sob o arco-íris  da bondade de Deus pairando sobre ela. Era a experiência alegre de sua pequenez  amada e protegida  pelo Senhor sempre e em tudo.  Deixou definitivamente sua assinatura  no epílogo de tudo: “Graças, Senhor, por me teres criado”.

Estrofe culminante de seu divino otimismo vital e canto de cisne de seu minorismo.

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/

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