Frei Éderson Queiroz, o presidente da CFFB, passou para os capitulares a sua última mensagem, carregada de indignação pela atual situação do país e, ao mesmo tempo, animou os capitulares a não se acomodarem e a terem esperança. Ir. Cleusa Aparecida Neves, vice-presidente da CFFB, fez um resgate histórico do nascimento do Cefepal até a entidade de hoje e o Secretário Nacional da Juventude Franciscana, Washington Lima dos Santos, leu o documento final do encontro.
“É chegado o momento de recolheram os nossas esteiras e as lançarmos sobre o chão das periferias do mundo, transformando continuamente nossa maneira de Ser, Estar e Consumir em reposta aos apelos do Papa Francisco. A realidade ecológica e sócio-política-econômica do nosso país nos exige compromisso profético de denúncia e anúncio”, pede a Carta de Aparecida (veja na íntegra abaixo).
TERRA FRANCISCANA
Ir. Cleusa Aparecida Neves, vice-presidente da CFFB
Frei Ederson não economizou nos agradecimentos e homenagens ao finalizar o Capítulo das Esteiras que celebrou os 800 anos do Perdão de Assis, o Jubileu de Ouro da CFFB e os 300 anos da imagem de Nossa Senhora Aparecida. “Que história bonita nós temos na nossa Conferencia. Quantos e quantos e quantas nos assessoraram nos cursos, revistas, nos retiros, nos encontros de preparação para os votos, na animação vocacional e receberam apenas a passagem de ida e volta!”, agradeceu
“A nossa história é uma história santa. Por isso, como o Senhor pediu a Moisés, ele pede a nós hoje: tire as sandálias para entrar nessa terra. A terra franciscana no Brasil é uma terra santa. Tirar as sandálias é tirar o medo, tirar a angústia de que estamos acabando. Tirar as sandálias é tirar a indiferença com tudo aquilo que diz respeito a nossa vida em fraternidade. Tirar as sandálias é dispor-se de novo num caminho juntos. Tirar as sandálias é redescobrir a nossa interdependência. Nós nos dependemos uns dos outros para viver como família franciscana do Brasil. Aliás, o franciscano, a franciscana, precisa do outro, como nosso pulmão precisa do ar, como o peixe precisa da água. Não há vida franciscana sem o outro. O outro é o grande dom depois que o Senhor me deu irmãos”, lembrou o presidente da CFFB.
Na sua homilia, como presidente da Celebração Eucarística, Frei Ederson refletiu sobre a Transfiguração do Cristo. “Meus irmãos e minhas irmãs. Este Capítulo foi um subir ao Monte Tabor. Saímos das nossas baixadas, dos nossos vales, viemos dos campos e das cidades, até da Espanha teve gente que chegou aqui. De carro, de avião, de ônibus chegamos a Aparecida. E, certamente, quando chegamos aqui, um cansaço, não apenas da viagem, mas da viagem que estamos fazendo no tempo e na história, nos abateu: cansaço dos desencontros, cansaço diante de uma decepção que vai tomando conta da nossa Pátria, pelos desmandos, pela corrupção, pela mentira, por tudo isso de nojento e de sórdido que está acontecendo debaixo dos nossos olhos; cansaço de uma paralisia. Estamos assistindo tudo estupefatos. Perdemos a força de ir para as ruas, de gritar ‘basta’, ‘fora’, sem temer nada e ninguém. Chegamos aqui cansados com as desventuras de nossa vida pessoal, da vida de família, da vida religiosa, do convento, da fraternidade, mas viemos ao Capítulo das Esteiras”, ressaltou o frade capuchinho.
Segundo Frei Éderson, esses dias em Aparecida “a voz do Pai se fez ouvir”. “Pela boca de Frei Vitório, a voz do Pai se fez ouvir; pela boca de Frei Luiz Carlos Susin, a voz do Pai se fez ouvir; pela voz dos testemunhos, pela voz dos irmãos e irmãs do Sinfrajupe, a voz do Pai se fez ouvir. E qual a voz do Pai ouvimos neste dia?”, perguntou.
O frade lembrou que o Filho Amado, de transfigurado será depois desfigurado, será tomado de todas as dores e desatinos da humanidade e se deixa desfigurar na Cruz para nos transfigurar com a força da ressurreição para que não sejamos mais construtores de cruz e nem de realidades que desfiguram. “Tudo o que me desfigura, e através de mim os outros, eu tenho a ver com isso, porque somos filhos da transfiguração. Não somos filhos da desfiguração. E diante dessa realidade da qual estamos mergulhados, que desfigura, que rompe, que rouba a vida, que mata, nós não podemos ficar insensíveis, acomodados e passivamente assistindo. Diante de toda a desfiguração, nós somos discípulos e discípulas da transfiguração”, enfatizou.
Frei Gilson Nunes, conselheiro da CFFB, coordenou as equipes de trabalho deste Capítulo e as chamou todas para o palco. “Graças ao coração, ao olhar, a ternura, a maioria nos bastidores, desses irmãos é que o Capítulo Nacional das Esteiras foi esse verdadeiro Pentecostes, esse momento de graça. A vós, irmãos e irmãs, obrigado de coração e que nós cresçamos cada vez mais na comunhão, na unidade”, agradeceu Frei Gílson.
AGRADECIMENTO À PROVÍNCIA DA IMACULADA
Frei Éderson fez um agradecimento especial a Frei Fidêncio Vanboemmel, Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição. “São muitas as pessoas que construíram a nossa história nesses 50 anos, mas nós queríamos dizer, de modo especial, a Frei Fidêncio que se a Igreja nos deu São Francisco, a Província da Imaculada nos deu as Fontes Franciscanas. Todos nós, de alguma maneira, somos filhos e filhas da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Basta olharmos só uma coisa: as publicações da Família. Lá pode ter dois, três, quatro ou cinco nomes de frades da Província da Imaculada. Aliás, o Cefepal foi para Petrópolis porque lá o Instituto Teológico nos deu suporte. Então, Frei Fidêncio e Frades Menores da Imaculada, a nossa gratidão. Frei Fidêncio teve um gesto muito bonito por nossa Conferência: em cada estado onde está a Província dele – ES, RJ, SP, PR e SC – nomeou um frade para acompanhar o Regional da Família Franciscana do Brasil. Esse é um gesto de anuência, de compromisso, de bem-querer. Muito obrigado, Frei Fidêncio por seu gesto!”
CARTA DE APARECIDA
“ Ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres. ” LS,49
A Conferência da Família Franciscana do Brasil, celebrando o Capitulo Nacional das Esteiras, consciente de sua missão de “levar ao mundo a misericórdia de Deus”, dirige-se a todas as pessoas de boa vontade: àquelas que continuam acreditando em um mundo de justiça e fraternidade e àquelas que, em meio às contradições e crueldades de nosso tempo, vivem a dor da desilusão e da falta de esperança.
As partilhas realizadas nesses dias nos levam a afirmar: vivemos um verdadeiro Pentecostes. Neste sentido, o Capítulo nos chamou a um revigoramento do Carisma e nos levou a fazer memória da herança, da inspiração originária que deu início ao movimento franciscano. A experiência das esteiras nos leva a retomar nossa vocação enquanto peregrinos e forasteiros.
As bases nas quais foram construídas a nossa história estão marcadas pelo sangue dos pobres e pequenos, indígenas, mulheres e jovens negros, por um extrativismo desmedido e destruidor, por uma economia que exclui a maioria, por destruição de povos, culturas e da natureza. À luz do nosso carisma, compreendemos que se faz necessário construir um novo horizonte utópico que nos comprometa com a construção de um projeto de país com justiça e paz em respeito à integridade da criação.
Somos sensíveis ao grito dos empobrecidos e da Mãe Terra! É preciso agir com misericórdia para com eles e, com indignação diante desse sistema que exclui, empobrece e maltrata, e convocarmos a todos para se unirem à luta que hoje assumimos juntos: participar da reconstrução da Igreja com o Papa Francisco e reconstruir o Brasil em ruínas.
É chegado o momento de recolhermos nossas esteiras e as lançarmos sobre o chão das periferias do mundo, transformando continuamente nossa maneira de Ser, Estar e Consumir em reposta aos apelos do Papa Francisco.
A realidade ecológica e sócio-política-econômica do nosso país nos exige compromisso profético de denúncia e anúncio. Assistimos, tomados de ira sagrada, à violação dos direitos conquistados, através de muitos esforços, empenhos e articulação pelo povo brasileiro. Por isso, não podemos deixar de nos empenhar junto aos movimentos sociais na luta “por nenhum direito a menos”, contra golpes, reformas retrógadas e abusivas conduzidas por um governo ilegítimo, um parlamento divorciado dos interesses da população e uma justiça que tem se revelado fora dos parâmetros da equidade “que no lugar de fortalecer o papel do Estado para atender às necessidade e os direitos do mais fragilizados, favorece os interesses do grande capital”¹.
Dessa Cidade de Aparecida, Nossa Senhora, Padroeira do Brasil, resgatada das águas de um rio, hoje poluído e degradado, nos faz eleger dentre os diversos apelos um compromisso particular com a Irmã Água. Deste modo, nos empenharemos na construção de um processo de reflexão e ação em defesa da água como bem comum, que se dará através da participação da família em jornadas, fóruns e nas iniciativas de fortalecimento dos trabalhos ligados à promoção da Justiça e da Integridade da Criação.
Tudo isso acontece, irmãs e irmãos, porque São Francisco nos ensinou que nos momentos mais difíceis de nossas vidas devemos voltar à Casa da Mãe. Ele e seus irmãos voltavam, com frequência, à pequena igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula. Nós voltamos ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, neste 300 anos de caminhada com os pequenos desta terra.
“Óh Mãe preta, óh Mariama, Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama!”, ainda assim, invocamos suas bênçãos sobre toda a nossa família e sobre um Brasil sedento de “Paz – fruto da justiça, do bem e da Misericórdia de Deus”.
Conferência da Família Franciscana do Brasil – CFFB
06 de agosto de 2017
Fonte: http://www.franciscanos.org.br/
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