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O que fomos fazendo da vida ou a vida foi fazendo de nós?

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UM CERTO MODO DE VIVER

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

1. É curto o espaço entre o nascer e o fim dos dias que nos são dados a viver. Tudo passa depressa, depressa demais. Passamos nós, passa o tempo, passam as coisas, passam as pessoas, passam as modas. Tudo muda. A criança, o adolescente, o rapaz e a moça em plena forma, a idade adulta e depois vem o declínio. Por vezes temos a tentação de dizer que nada é importante, de deixar as coisas correrem, acontecerem e, preguiçosamente, observar esse correr das coisas para o fim, coisas que se repetem, rotineiramente. Temos a tentação de deixar a vida nos levar, viver por viver. Entre o momento em que não existíamos e aquele em que nosso corpo inerte for levado ao cemitério ou a um crematório aconteceu a vida, a minha vida, a nossa vida, que ninguém vive em meu lugar, em nosso lugar. O que estamos fazendo de nossas vidas?

2. Fizemos o propósito de viver cristãmente. Nossos pais, parentes e conhecidos nos orientaram, ou nos encaminharam em que fôssemos adotando um gênero de vida cristão. Pode ter acontecido que tenhamos sido batizados, crismados, que tenhamos recebido a comunhão no corpo de Cristo e tudo o mais que tínhamos direito: bênção da garganta pela intercessão de São Brás, cinzas na fronte no começo da Quaresma, jejum na sexta-feira da Paixão e tudo o mais. Pode ter acontecido que tenhamos vivido tudo isso sem grande profundidade, sem consciência clara a beleza e do esplendor do estilo de vida cristão. Por única graça do Senhor fomos despertados de nossa indolência e de um torpor religioso e nasceu em nós o desejo de viver intensamente nosso seguimento de Cristo. Quisemos deixar a prática de uma religião sem vida e desejamos ser discípulos do Senhor Jesus, vivo e ressuscitado, que foi, por diferentes circunstâncias se insinuando em nossas vidas. Experimentamos como que uma saudade de Deus e nasceu em nós o desejo de sermos cristãos de verdade.

3. Alguns entramos na Ordem Primeira de Francisco de Assis, parte da família espiritual suscitada pelo Santo Espírito. Outros aderiram ao franciscanismo vivido pelos seculares. No seio da família franciscana “ocupa posição específica a Ordem Franciscana Secular que se configura como uma união orgânica de todas as fraternidades católicas espalhadas pelo mundo e abertas a todos os grupos e fiéis. Nelas, os irmãos e irmãs, impulsionados pelo Espírito a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular, são empenhados pela profissão a viver o Evangelho à maneira de São Francisco e mediante a Regra, confirmada pela Igreja” (Regra, n.2).

4. Reiteramos nossa opção pelo caminho cristão de viver, abraçamos o Evangelho. Tomamos plena consciência de que Cristo vive em nós, que o Espírito do Senhor foi derramado em nossos corações, que morremos e renascemos na paixão, morte e ressurreição do Senhor, revestimo-nos do Evangelho vivo, fomos compreendendo que não existe maior amor do que dar a vida pelos outros. Estas afirmações não são meramente frases feitas salpicadas de água benta, mas convicções que nos animam a partir de nosso nó interior, precisamente lá onde começa nossa vida.

5. Fazemos e queremos continuar a fazer de nossa vida um dom. Recebemo-la de Deus e aos outros vamos doá-la. Não queremos reter nada para nós. Dom no seio de nossa família, junto aos que vivem e trabalham conosco, na comunidade cristã e em nossa fraternidade franciscana secular. Aos poucos vamos nos tornando discípulos ardorosos do Senhor. Nem sempre conseguimos.

6. Os que ingressam na família franciscana são pessoas que não se contentam com a mediocridade e a superficialidade. São discípulos do serafim de Assis, do ardoroso homem do amor a Deus e aos homens. À maneira de Francisco e de Clara buscam corresponder ao amor de Deus no meio do mundo. Não buscam a santidade à maneira dos que professam a vida consagrada, mas no meio do século.

7. Vivem e querem sempre mais viver o fraternismo. Regularmente se reúnem com seus irmãos de ideal. Mas são sempre fraternos: gostam das pessoas, acolhem os diferentes, criam a paz onde há divisão, corrigem firme e carinhosamente os irmãos para que estes não enveredem por mais que não levam a lugar nenhum, têm como ponto de honra lavar os pés dos outros, evitam alimentar sentimentos de competição.

8. Não gostam de estar sob a claridade dos holofotes. Tudo o que fazem, fazem da melhor maneira que podem. Fazem-se presentes sem chamar atenção. Mas também não admitem uma falsa humildade.

9. Podem e devem dizer que são “amigos do Senhor”. Abrem suas vidas para encontros gratuitos, regulares e, por vezes, saborosos com o Senhor mesmo com as tarefas pesadas que precisam exercer em sua vida secular. Fazem o que podem e não podem para não perder o espírito da devoção e da santa oração.

10. Estão dispostos a mudar


• o coração através de constantes revisões de vida, exames interiores e da alegre e grata recepção do sacramento da reconciliação;

• a organização de suas vidas, simplificando tudo o que puderem (comportamento, modo de comer, de vestir-se, de administrar os bens e o dinheiro, de usar o tempo livre;

• a maneira de realizar seus encontros e reuniões que serão suculentos, sinceros, realizados com equilíbrio entre oração, estudo e carinho fraterno, espaços que são verdadeira salas de espera para acolher o Senhor que se faz presente na Palavra proclamada e no rosto dos irmãos;

• o modo de atuar na paróquia e na evangelização; não querem dar a impressão de serem meros “funcionários” de uma firma, “tropa de choque”, mas gente que age e atua com espírito crítico, discernimento preparando os corações para que acolham a novidade esplendorosa de Deus em suas vidas.

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