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As mães enfeitam a face da Terra

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Foto: Frei Roger Strapazzon, Angola

Maio, mês das mães, e aqui simplesmente uma galeria de retratos de mãe. Isto é verdade verdadeira, elas sempre enfeitam a face da terra.

As mães são criaturas adoráveis, especialíssimas, sim quase sempre adoráveis. Aí estão elas, numerosas, apressadas, cuidando de mil tarefas antes de ir para o trabalho, antes que a noite chegue, antes que caia tonta de sono, antes de os filhos irem para a cama, antes de rezarem uma reza para a mãe de Jesus.

As mulheres ficam mais bonitas no tempo da gravidez. Até mesmo as que não são bonitas demais. Caminham devagar carregando um tesouro. Depois bem o abraço com o pimpolho que saiu de dentro dela. Cuidados e mais cuidados. Vacinas, papinhas, fraldas, mamadeiras, material para o jardim da infância, mochila e… tênis, roupa para as noites, festa de formatura…aparelho de barba, namoro, casamento e o ninho fica vazio. Há sempre, no entanto, um ponto de referência: a mãe, a mamãe.

Lá está aquela mãe. Mais parece uma menina. Dezesseis, dezessete anos. Está amamentando uma criança. Houve um envolvimento amoroso com um homem casado que dera à mocinha a ideia do aborto e de uma soma de dinheiro para tanto. A garota resistiu às insinuações de uns e de outros. Pena que a criança tenha nascido assim, fora do amor de verdade de um homem e de uma mulher, fora de um espaço que se chama família. Tomara que essa mãe-menina encontre um rapaz de valor que lhe queira bem e “adote” a criança que ela agora amamenta.

Aquela outra mulher é uma executiva. Resolveu ter dois filhos. Fez de tal sorte que um chegasse logo após o outro. Pouco tempo de intervalo. Não pode estar sempre perto dos filhos. Faz o que pode para se fazer presente em suas vidas. Procura estar com eles à noite, em torno à mesa. Ela e o marido, mesmo com atividades estressantes e ocupações absorventes, não delegam a ninguém a educação dos filhos. Estão presentes na vida dos filhos.

Ainda aquela outra mulher teve uma porção de filhos. Vive num bairro modesto da cidade. Teve uma tristeza muito grande anos atrás. Sua menina mais velha, quando vinha da escola, morreu numa dessas brigas de facções criminosas. Era uma menina de muito valor. Estava dando catequese na capela do morro, preparando crianças para a primeira comunhão. Mesmo cercada do marido e de muitos outros filhos a dor daquela mãe não tem tamanho.

Aquela outra mulher queria ter muitos filhos e não pode ter nenhum. Adotou duas meninas. Sua maternidade vem do coração. Uma vez crescida a menina mais velha casou-se e já lhe deu dois netos. A mais nova está fazendo enfermagem e vive com a mãe. Há sempre um belo almoço com todos no dia as mães. Normal que seja assim. Preito de gratidão.

Ainda uma cena protagonizada por mães. Era o primeiro filho do casal. Ao sair da maternidade marido e mulher e João Ricardo passaram pela igreja perto de sua casa. Os pais do menino foram até a Capela do Santíssimo e entregaram o dom que lhes tinha sido dado ao Deus de todos os dons.

O tema das mães

Os tempos mudaram. Nem todas as mães têm o avental sujo de ovo. Mas sempre são fontes da vida. Pessoas que alimentam os filhos com o oxigênio de seus pulmões, o sangue de suas veias, o leite do peito e atenções ao longo de todo o tempo da vida. Aquela que dá entre num eterno estado de maternidade.

Mãe, pessoa única, figura de toda grandeza e de toda beleza. Frágil e forte. Quantas vezes vemos essas figuras descarnadas das terras da miséria alimentando os filhos com a secura de seus peitos. Normal que sua data seja comemorada com alegria. Muitas vezes discursos e elogios às mães são exagerados, são marcados por sentimentalismo balofo, nem sempre dizendo a verdade.

Mãe que antes de tudo é esposa. Na sua caminhada encontrou uma pessoa especial que lhe roubou o coração. Ele e ela, marido e mulher, esposo e esposa se abrem ao mistério da vida. Aceitam alegremente o colocar filhos no mundo. Filhos que chegam do mistério da vida e do sonho do Altíssimo e são confiados aos dois.  A mãe apresenta o filho que saiu de suas entranhas ao pai. Deus empresta o tesouro de seus filhos aos pais da terra.

Maternidade não é fatalidade. É vocação. A decisão pela maternidade começa no útero de uma mulher. Aquele nadinha se instala ali. Precisa de alimentos, sais minerais, sangue, oxigênio, carinho, conversa, ternura. Depois que nasce… é a vida toda filho…cresce, vai à escola, enturma-se, fica conhecendo o mundo… vai e volta… namora, casa, separa-se. Uns desses meninos e meninas têm uma trajetória bonita e linear… outros são difíceis… mas lá está mãe que vai dando a vida pelos filhos que acabam de nascer, que sofreram um acidente, que andam pelas noites, que se drogam.. sempre a mãe. A vida inteira vai dando a vida pelos filhos sem querer possuí-los. Que não se tornem trapos humanos, vítimas de sociedade da mentira, sociedade consumista, matadora de sonhos e de utopias. Sociedade que usa os filhos de nossas famílias.

Mãe, aquela que sabe escutar, que sempre escuta, que adivinha antes que lhes digam o que nem sabem ou podem dizer. Aquela com quem se pode contar. Aquela a quem os filhos recorrem com toda confiança. Mesmo um filho de quarenta que se separa depois de um casamento tumultuado e desastroso encontra espaços largos no coração da mãe.

Mãe cristã, não apenas religiosa ou pessoa de rezas, mas mulher que foi se plasmando pela força do Evangelho da misericórdia, do serviço. Mulher de oração, de intimidade com Deus, mulher da qual os filhos se orgulham porque sabem que é confidente de Deus. Mulher que, delicadamente, apresenta os filhos ao Senhor que não impõe práticas religiosas, fazendo antes com que seus filhos se tornem límpidos por dentro em tenham sede de Deus, que consigam ter em seus semblantes os traços de Jesus.

A mulher e sua filharada

Uma mulher, mulher simples, com sua filharada.

O cronista encontra matéria para suas divagações simplesmente observando a vida à sua volta. As histórias acontecem nas coisas inesperadas do cotidiano. Um dia desses vi uma mulher de seus quarenta e poucos anos, forte, robusta. Chinelo de dedos, saia comprida com blusa solta. A cores da saia com a da blusa se desentendiam. Carregava uma bolsa, dessas bolsas de supermercado, cheia de coisas. Os filhos, os filhos todos à sua volta. A mulher, cabelo liso, corpo ainda jeitoso, dava ordens a uns e outros. Eram seis. Os meninos de bermudas e as meninas de saiotes e camisetas coloridas. Um dos mais novos que vinha atrás pinicava o nariz. A menina de tranças olhava para trás, observando uma mulher que puxava a filha pelo braço e a teimosa da menina se jogava no chão. A mãe e os filhos iam depressa. Não sei de onde vinham nem para onde iam. Não sei se marido tinha aquela mulher. Devia ter e devia ser uma pessoa muito orgulhosa da mulher e dos miúdos. Imaginei que fosse um homem bonito parecido com o guri mais velho com luminoso e escultural semblante. Uma mãe, uma mulher dessas mulheres belamente simples.

Lembrei-me de uns versos delicados e verdadeiros de Cora Coralina:

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca grossa
de chinelinha
e filharada.

Cena encantadora, essa da mãe com seus filhos, todos caminhando com decisão, para frente, não sei para onde… mas gente que vivia a vida, essa mulher de tantos filhos parecia mesmo a senhora do mundo.

Fonte: http://franciscanos.org.br

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