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O desafio de ser Irmãos e Menores

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Moacir Beggo

O novo ano se inicia na Província Franciscana da Imaculada Conceição em ritmo intenso devido ao Capítulo Provincial que será realizado de 18 a 26 de janeiro, no Seminário Santo Antônio, em Agudos. Nestas duas semanas, os frades estarão reunidos em assembleia para celebrar e definir os rumos de sua vida e missão no próximo triênio. Mas mais do que isso, segundo o Visitador Geral, Frei Nestor Inácio Schwerz, estarão reunidos sob o “acertado” tema central: “Evangelizar como Irmãos e Menores”.

Para Frei Nestor, que será o presidente do Capítulo, este tema também está em sintonia com o pedido do Papa Francisco para levar ao mundo a “alegria do Evangelho”, uma missão de todos os cristãos e religiosos. “Segundo São Francisco, seus seguidores devem se chamar todos de irmãos menores”. Mais do que o nome ‘irmãos menores’, ser irmão, viver como irmão e atuar como irmão, é uma missão. Nós mesmos temos que, cotidianamente, retomar esta vocação porque não é algo pronto e acabado. É muito desafiador viver como irmãos em meio às diferenças entre nós e mais ainda quando nos deparamos com toda essa diversidade na comunidade, na sociedade e no mundo. Viver aí, como irmãos e menores, e construir uma fraternidade, é uma grande missão”, enfatizou.

Frei Nestor lembrou a necessidade desse testemunho num mundo dividido e muito marcado por violências. “Vemos essa onda gigantesca das migrações em que as diferenças de religiões e culturas vão se encontrando”, exemplificou, citando que em sua visita às fraternidades se deparou com muitos estrangeiros no Brasil. Segundo o frade, ser irmão e menor, como queria São Francisco, não tem nada de infantil. “O irmão menor é servo, não age como quem se impõe, como quem tem o poder. Ser menor é não ter nada de próprio. São Francisco insistiu muito nisso, porque não somos donos de nada e de ninguém. Nós recebemos tudo. Tudo é dom de Deus, tudo é graça. Então, acolhemos esses dons de Deus, administramos de forma responsável, mas queremos restituir isso em forma de solidariedade, serviço, doação e partilha. Esse tema, por si só, nos ajuda a rever a nossa identidade e nos ajuda a refletir sobre a nossa missão no mundo e na Igreja de hoje”, explicou.

Frei Nestor adiantou que os capitulares também terão a assessoria do Pe. França Miranda, jesuíta, para uma reflexão sobre o mundo de hoje. “E ele já disse que vai fazer uma leitura, sobretudo teológica, do mundo, da sociedade e da Igreja, muito na perspectiva daquilo que o Papa Francisco está propondo, com insistência, em suas falas e gestos, em uma Igreja em saída, uma Igreja solidária, uma Igreja aberta, e que vai ao encontro das periferias. A partir disso, como nós podemos também ser uma fraternidade em saída? Não uma fraternidade fechada em si mesmo, voltada sobre si mesma, mas uma fraternidade missionária, que sabe dialogar com o mundo de hoje, com todos os desafios e realidades presentes em nosso tempo”, observou.

Segundo Frei Nestor, outras reflexões virão a partir dos relatórios do Ministro Provincial e do seu relatório. “O meu relatório vai ser elaborado, sobretudo, a partir das visitas e dos meus contatos, conversas, com cada irmão nas fraternidades”, explicou. Segundo o presidente do Capítulo, os capitulares poderão aprofundar os temas abordados em grupos e dar o encaminhamento.


O QUE É O CAPÍTULO

Segundo Frei Nestor, o Capítulo é um acontecimento fraterno e que, pelos Estatutos Gerais, é uma assembleia dos frades para tratar da direção da vida e da missão dos irmãos na Província, ou como dizem as nossas Constituições Gerais, esta assembleia tem o dever de analisar o estado atual da vida e da atividade dos irmãos da Província.

Portanto, é um acontecimento fraterno, de muita partilha e é também espiritual. “Antes do Capítulo se reza nas nossas fraternidades, com o povo, com as Clarissas, para que o Capítulo seja muito inspirado e conduzido pelo Espírito de Deus, pelo Evangelho e pela Palavra. Durante o Capítulo também há muitos momentos de oração”, explicou.

Mas a história é dinâmica e a assembleia capitular terá muito trabalho pela frente. “Existem novos desafios, novas situações, novas realidades da vida e da missão dos frades. Então, tomam-se decisões, geralmente no final da assembleia, para os próximos anos. Essas decisões vão orientar sobretudo o novo governo provincial e a Província toda no próximo triênio ou no sexênio”.

O PROCESSO

Embora compete a Frei Nestor presidir o Capítulo, é humanamente impossível ele cuidar de tudo. Para isso, foi criada a Comissão Preparatória, que pensou no tema, em todos os detalhes, na programação, na logística e na agenda que já foi aprovada pelo Definitório Provincial na última reunião, mas ainda será apresentada para o aval dos capitulares no início do Capítulo (processo).

Frei Nestor foi nomeado Visitador pelo Ministro Geral, Frei Michael Perry, em junho último. Desde então, ele passou a visitar as Fraternidades da Província. “A visita canônica consiste no seguinte, segundo a nossa tradição. O Ministro Geral deveria, na verdade, fazer esta visita a todos os irmãos quando uma Província vai realizar um Capítulo Provincial. Mas como a nossa Ordem, felizmente, ainda é grande – somos quase 14 mil irmãos no mundo todo e ao redor de cem províncias e entidades -, então é impossível para ele fazer isso. Na nossa Ordem, o Ministro Geral escolhe um frade de outra Província para fazer esta visita a todas as fraternidades no tempo capitular. Ela se chama ‘visita canônica’, porque é antes, na verdade, uma visita fraterna. É canônica porque obedece a certos cânones, regras ou orientações, e consiste sobretudo na escuta. Trata-se de escutar especialmente a cada frade, cada irmão, nesta visita. Mas a gente escuta lideranças leigas onde os frades atuam nas Paróquias, nas frentes de educação, em emissoras de rádio e TV, em editoras e depois visita também o bispo para escutá-lo sobre a presença dos frades na sua diocese. Também ouvimos as Clarissas e a Ordem Franciscana Secular. No fim da visita em cada fraternidade, sempre fiz um momento de ‘capítulo local’, de um encontro para partilhar um pouco daquilo que ouvi, observei, em forma de animação e sugestões para melhorar alguns aspectos da missão em cada dia”, detalhou Frei Nestor.

“Foi uma experiência muito boa, bonita, rica. Senti-me muito bem acolhido em todas as casas; melhorei os meus conhecimentos geográficos, porque uma coisa é ouvir falar onde é que fica Xaxim, Coronel Freitas, Concórdia, Colatina, outra coisa é ir ali, ver, escutar e passar uns dias”, confessou.

AS ELEIÇÕES

Segundo a agenda do Capítulo que já foi aprovada pelo Definitório, mas ainda será submetida à assembleia capitular, a eleição para Ministro Provincial será no dia 21 de janeiro, uma quinta-feira. “Esta Província tem o seguinte esquema para a eleição do Provincial. Primeiro se faz uma indicação geral, de onde saíram os 10 nomes mais votados, que foram enviados para o Ministro Geral e seu Definitório aprovarem cinco desta lista. Geralmente são os cinco mais votados. Com a homologação destes nomes, foi feito o primeiro escrutínio da eleição propriamente dita, onde todos os Irmãos da Província de profissão solene com direito a voto (316) participam. E na tarde deste dia 21 de janeiro, vamos fazer a apuração deste primeiro escrutínio. Para ser eleito, um dos nomes deverá receber maioria absoluta – metade mais um – dos votos de todos os frades com direito a votar. Caso contrário, naquela noite, nós vamos proceder a eleição segundo às orientações dos Estatutos da Província. Então, esperamos que no dia 21, se não for à tarde ou à noite, vamos confirmar a eleição do Ministro Provincial. E no outro dia, 22, teremos uma prévia para o Vigário Provincial e os Definidores. Isto vai ser divulgado dentro da assembleia e, no domingo, dia 24, será feita a eleição. Então, no dia 24, já queremos estar celebrando a eleição do novo governo provincial. A posse será feita à noite deste dia 24”, explicou Frei Nestor.

Segundo o frade, o Capítulo é realizado a cada seis anos, como é o caso deste em Agudos, pois também elege o novo Ministro e Vigário Provincial.

Neste Capítulo, se o atual Ministro Provincial for reeleito, será por mais três anos; se for outro, será por seis anos. “Depois de três anos, há um capítulo intermediário em que também se faz uma análise da situação e também se faz uma avaliação de como estão na prática as decisões que foram tomadas no Capítulo anterior e se elegem os definidores. Os mesmos podem permanecer ou serem mudados. Mas não mudam o Ministro e o Vigário em caso de serem eleitos para seis anos”, explicou.

“Nos Estatutos da Província consta que todos os frades professos solenes são capitulares e existem aqueles frades que têm responsabilidades ou encargos, como os guardiães, os definidores etc, por dever de ofício de participar e os outros que se inscrevem livremente para participar. Em si, todos os frades de profissão solene podem participar do Capítulo, mas nem todos vão participar deste. Mas há um bom número de inscritos (cerca de 170) e vai ser uma assembleia muito grande”, prevê o presidente.


O PRESIDENTE DO CAPÍTULO

Frei Nestor é gaúcho de Santa Cruz do Sul (Salvador do Sul), e ingressou na Ordem dos Frades Menores em 3 de Fevereiro de 1970. Foi Ministro Provincial da Província São Francisco de Assis em 1995. Durante seis anos, de 2009 a 2015, Frei Nestor esteve a serviço da Cúria Geral como Definidor para a América Latina.

Fonte: http://www.franciscanos.org.br

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