LOUVADO SEJAS MEU SENHOR PELA IRMÃ TAIPA
TAIPA - Nome
genérico que se costuma dar a todo sistema construtivo em que se emprega, na
confecção de paredes e muros de fecho, a terra umedecida ou molhada.
Não
se-trata de alvenaria de terra ou barro, como no caso do ADOBE. Trata-se de
qualquer sistema em que os panos contínuos são executados diretamente no local,
em que a terra não sofreu nenhum beneficiamento anterior.
Existem
dois tipos de taipa: a taipa de pilão, e a taipa de mão; de sebe, ou, ainda, de sopapo.
O
uso da taipa de pilão é remoto, parecendo ter sido empregado desde tempos
imemoriais no oriente, nos vindos através dos árabes, embora já fosse do
conhecimento dos romanos.
Em
síntese, a parede de taipa de pilão é conseguida comprimindo-se a terra dentro
de formas de madeira.
Desenho esquemático da armação do taipal. - Dicionário da arquitetura brasileira, página 439.
A
fôrma de madeira, ou taipal, é constituída de duas grandes pranchas compostas
de tábuas emendadas de topo, que se mantêm de pé e afastadas entre si graças a
sistemas variáveis no tempo e no espaço, em que são empregados pontaletes,
travessas, escoras, etc.
Aliás,
a nomenclatura das diversas partes que garantem a verticalidade e a constância
dos afastamentos nos taipais varia muito entre os autores e entre os taipeiros.
Enquanto
a técnica jesuítica espalhada na bacia paraguaia adotava duas fileiras
paralelas de esteios cravados no chão, entre as quais eram colocadas as
pranchas, a técnica que herdamos usa taipais desmontáveis e deslocáveis ao
longo das paredes em obras.
Embora alguns autores indiquem possibilidade de se fazer parede de taipa sobre alicerce de alvenaria, a técnica ortodoxa manda que a própria fundação seja de terra pilada. Assim, são abertas as valas ao longo dos eixos das paredes programadas, com a largura desejada e sugerida, pela prática, já que nunca a taipa de pilão passou além dos campos do empirismo.
A largura média das paredes é de aproximadamente 0,60m, embora existissem algumas com 0,30m.
A terra muito molhada forma barro ou lama incompressível. Também foi usado na taipa o saibro amarelo pedregulhento, pedra não muito grande como podemos observar na Capital paulista.
Vista interna da parede de Taipa de pilão, elemento estrutural da edificação do século XVIII, patrimônio nacional que consta na Igreja das Chagas do Seráphico Pai São Francisco em São Paulo. Acervo VOT.
Quando
a altura da terra pilada estivesse chegando a mais ou menos, dois terços da
altura do taipal eram colocados transversalmente pequenos paus roliços envoltos
em folhas, quase sempre de bananeira, que permitiriam depois de terminado o
lanço e depois de suas retiradas, a possibilidade de se ancorar o taipal do novo
bloco superior a ser feito depois. Notamos que uma parede de taipa é constituída
de vários grandes blocos de terra socada, cujas dimensões decorrem das medidas
dos taipais. Os taipais sugerem que tais blocos tenham suas extremidades verticais,
mas foi normal os taipeiros terminarem os blocos comas faces de topo inclinadas
para obter melhor amarração.
Os blocos eram feitos desencontrados, à semelhança dos aparelhos dos tijolos de alvenaria. Na hora de se começar os blocos da fiada acima daquela diretamente apoiada nos alicerces, surgem no taipal novas peças. São elas em tudo semelhantes às agulhas superiores e se chamam, também, cangalhas inferiores, sendo introduzidas nos orifícios deixados pelos paus roliços envoltos em folhas de bananeira denominados codos. Tais orifícios, que depois são cheios de barro, recebem o nome de cabodás. Dessa maneira, as costas ficam apoiadas nas agulhas inferiores e, à medida que a parede vai subindo, vão sendo 'aproveitados os cabodás sempre previstos.
O maior perigo nas obras estava nas chuvas repentinas, pois a água é a maior inimiga da taipa. Era costume, terminada uma jornada, cobrirem-se os blocos recém-acabados com sapé. E daí, também, a justificativa para os grandes cachorros dos beirais, que satisfatoriamente desviavam as águas pluviais.
A
taipa de pilão, empregada entre nós desde Tomé de Sousa, foi, usada aqui e ali
até achar o lugar de sua fixação permanente, estabelecendo franco domínio sobre
as outras técnicas: achou o planalto paulista. Serra acima a taipa de pilão
teve seu império e dali irradiou-se por Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e
Paraná. Somente nessas últimas regiões é que teve emprego sistemático,
concorrendo com a taipa de mão. Mas em São Paulo é que predominou durante séculos.
A confecção de paredes de taipa de mão é simples. Nas faces superiores dos baldrames e nas faces inferiores dos frechais são executados orifícios que permitem a fixação de paus verticais equidistantes, os paus-a-pique (expressão que também dá o nome à técnica). Alternadamente, pelo lado de fora e pelo lado de dentro, são amarradas com cipó, com qualquer embira e hoje em dia com arame, as varas equidistantes horizontais, criando-se, assim,um grande painel transfurado, cujos vãos deverão ser preenchidos com barro. Na taipa demão, a terra, da mesma qualidade da empregada na taipa de pilão, pode receber de permeio um pouco de capim ou de crina animal.
Houve
quem misturasse à terra, um pouco de sangue como aglutinante, ou cal com alguma
areia, para maior endurecimento. O emprego de capim foi comum, para evitar
rachaduras maiores.
O barro era atirado, ao mesmo tempo, por duas pessoas, uma do lado de dentro e outra pelo lado de fora. Daí a expressão de sopapo ou de tapona.
CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos. Dicionário da arquitetura
brasileira. 1ª edição, São Paulo. 1972
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Da taipa ao concreto: crônicas e
ensaios sobre a memória da arquitetura e do urbanismo. São Paulo. 2013
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