Notícias do TRE - março 2024 - nº 199
MEMÓRIAS ELETIVAS
EM BUSCA DE FRANCISCA MIQUELINA
Numa tarde de 1999, encoberta pelas brumas do passado, o poeta Paulo Bomfim vislumbrou, na condição de coordenador do Centro de Memória Eleitoral (Cemel), uma participação autoral sua na exposição que viria a ser inaugurada em 12 de agosto daquele ano. Instalado num pequeno espaço do 11º andar do prédio Brigadeiro, escreveu, quase que num transe mediúnico, de um fôlego só, o texto “A vizinhança do TRE”, no qual fez todas as conexões familiares possíveis com nomes das vias públicas ao redor da sede do TRE-SP, a começar, é claro, por Francisca Miquelina. Alguns dias depois, convocou Zezinho (José D’AmicoBauab), servidor membro da comissão de constituição do Cemel, para uma busca: onde estaria enterrada Francisca Miquelina?
Seu primeiro palpite foi a Igreja das Chagas do Seráphico Pai São Francisco, construída em 1676 e ampliada no final do século XVIII. O poeta e seu escudeiro encontraram a igreja, situada no Largo São Francisco, fechada. Bateram na enorme porta, que não demorou a abrir-se. O funcionário, ao reconhecer o Poeta de São Paulo, logo se prontificou a levá-los ao jazigo, uma imponente sala funerária com as paredes repletas de gavetas, nenhuma delas, porém, com o nome de Francisca Miquelina.
Quase um quarto de século depois, aquele escudeiro, já com os cabelos nevados e sem o Poeta, resolveu refazer a visita, acompanhado, desta vez, pelas colegas Andreia de Moraes Soares, Cintia Takiguthi e Jéssica Albuquerque dos Santos Romão. O grupo foi fraternalmente recebido por dois notáveis membros da ordem franciscana secular responsável pelo templo, a senhora Maria Aparecida Crepaldi e o senhor Edmilson Soares dos Anjos, o qual conduziu os visitantes até o espaço das inumações para palestrar uma verdadeira aula sobre os personagens da velha Piratininga. Ele apontou para o chão daquele quadrilátero e disse que muitos membros daquela ordem estavam ali enterrados, entre os quais provavelmente Francisca Miquelina de Souza Queiroz (1803 ‒ 1830) e seu pai, o Brigadeiro Luís Antônio de Souza Queiroz (1746 ‒ 1819), mas não sua mãe, Dona Genebra de Barros Leite (1782 ‒ 1836), falecida em Portugal. O Brigadeiro, a propósito, era português de nascimento e considerado o homem mais rico da então província de São Paulo à época. Filantropo, ele ajudara a construir a ampliação da igreja. Francisca Miquelina casou-se, em 1817, com o primo Francisco Ignácio de Souza Queiroz, militar e político influente da época. Um de seus irmãos, Luís Antônio de Souza Barros (1809 ‒ 1887), foi prefeito de São Paulo em 1835. Outro de seus irmãos, Vicente de Souza Queiroz (1813 ‒ 1872), foi o primeiro Barão de Limeira.
No final do século XIX, a Baronesa de Limeira, cunhada de Francisca Miquelina, doou terrenos de sua propriedade para que fossem abertos ao trânsito público com a condição de que as vias públicas daí surgidas recebessem nomes de seus familiares. Assim então, a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, a Rua Genebra, a Rua Maria Paula, a Rua Aguiar de Barros e… a Rua Francisca Miquelina. Embora falecida ainda muito jovem, Francisca Miquelina certamente deixara muita saudade dentre os seus: uma neta sua, nascida em 1850, recebeu seu nome, como também duas sobrinhas. Esse afeto familiar a ela remanesce, decerta forma, na rua onde o TRE paulista está situado desde 1970.
E coube a Paulo Bomfim fazer aflorar a memória dessa histórica
personagem tanto tempo depois.
Jéssica Albuquerque dos Santos Romão
José D’AmicoBauab
Luiz Alexandre Kikuchi Negrão
EM BUSCA DE FRANCISCA MIQUELINA
Francisca Miquelina
Igreja das Chagas do Seráfico
Pai São Francisco
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