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Quatro sepultamentos de São Francisco

 Quatro sepultamentos de São Francisco 

Nascido em 1181/1182, São Francisco de Assis faleceu em um sábado à tarde, 3 de outubro de 1226. Tinha, pois, entre 44/45 anos, e padecia de várias doenças, inclusive, segundo a nomenclatura da época, hidropisia.  

Conta Tomás de Celano que “no sexto mês antes do dia de sua morte, estando em Sena para tratar da enfermidade dos olhos, começou a adoecer gravemente em todo o corpo, e, estando debilitado o estômago por longa doença e pelo mau estado do fígado, vomitou muito sangue, de modo que parecia aproximar-se da morte” (1 Cel, Cap VII, 105). 

No Espelho de Perfeição conserva-se o diálogo do Santo com um médico, seu amigo, de nome Finiato. Perguntou-lhe Francisco: “Finiato, o que pensas desta minha doença de hidropisia?”. Após alguma relutância do médico em responder, disse o Santo: “Não tenhas medo, porque pela graça de Deus, não sou um covarde para temer a morte. Pois, por graça do Espírito Santo, estou tão unido a meu Senhor que estou contente quer com a morte quer com a vida”. “O médico disse-lhe claramente: “Pai, segundo a nossa medicina, tua doença é incurável, e creio que morrerás no fim do mês de setembro ou nos primeiros dias de outubro”. Então, deitado no leito, São Francisco ergueu as mãos ao Senhor com a maior devoção e respeito e, com grande alegria de mente e de corpo, disse: “Bem-vinda seja a minha irmã morte!” (2 EP, Cap 122). 

O primeiro sepultamento ocorreu no dia seguinte à morte, domingo, 4 de outubro de 1226. O corpo, num sarcófago de pedra, foi colocado debaixo do altar da Igreja de São Jorge, onde, em escola canônica anexa, o Santo aprendera a ler e escrever; pregara pela primeira vez, e por outras vezes; e onde o Papa Gregório IX proclamou sua canonização em 16 de julho de 1228. Neste primeiro jazigo, permaneceu até 25 de maio de 1230. A Igreja de São Jorge teve sua demolição iniciada em 1257, e foi substituída pela Basílica de Santa Clara, consagrada em 1265, mas desde 1260, nela repousa o corpo incorrupto da Santa tão companheira do Pobre de Assis. 

O segundo sepultamento ocorreu, na citada data, 25 de maio de 1230. O corpo de São Francisco em seu sarcófago de pedra foi trasladado, em circunstâncias dramáticas, com narrativas contraditórias, pelo então Ministro Geral Frei Elias, com grande concurso de povo e autoridades, inclusive todos os Ministros provinciais da Ordem, para debaixo do altar, na cripta da Basílica inferior de Assis, de recente construção. O lugar não era acessível ao público, contudo era visível por um postigo, que, por ordem pontifícia, foi fechado em 1442. Com o decorrer do tempo foi esquecido o local exato bem como a situação do corpo de São Francisco, e o recinto mesmo acabou encoberto por terra e pedras. 

Conta Frei Fernando Uribe, que, no século XIX, com autorização pontifícia, procedeu-se aos trabalhos para descobrir o sepulcro de São Francisco, e após 52 dias de intenso esforço, em 12 de dezembro de 1818, veio à luz “um sarcófago de pedra protegido por barras de ferro, no qual havia um cadáver assim descrito por uma testemunha ocular: “O cadáver foi visto em sua integridade pela primeira vez: o corpo do santo estava ao natural, porém, ao primeiro contato com o ar, as mãos apoiadas sobre o estômago se desintegraram instantaneamente junto com o estômago”. O Papa Pio VII assinou em 1820 um breve, no qual declarava que o corpo correspondia ao de São Francisco” (1). 

De forma que, entre 1818 a 1820, o sarcófago de São Francisco foi aberto, o corpo do Santo foi visto e analisado, antes de retornar novamente, em seu terceiro sepultamento, para o repouso do sepulcro.   

A cripta hoje existente é produto de total reforma efetuada entre 1925 e 1932, e nela, em nichos protegidos por grades, conservam-se os restos mortais de Ângelo, Masseo, Leão e Rufino, quatro dos companheiros da primeira hora, bem como de Jacoba de Settesoli. 

Porém, Frei Fernando Uribe registra a notícia de uma nova exumação em recente abertura do sarcófago do Santo de Assis.: 

“Aos 17 de janeiro de 1978, o Papa Paulo VI, com um breve apostólico, autorizou um novo reconhecimento do corpo de São Francisco. Sete dias depois, procedeu-se à abertura da urna perante uma comissão oficial por peritos e autoridades. Depois de minucioso trabalho de reconhecimento, descrição e limpeza dos ossos encontrados, foram colocados numa urna de plexiglás ao vácuo e com azoto a fim de impedir o desenvolvimento de germes e propiciar o equilíbrio barométrico interno em relação ao ambiente externo. Aos 4 de março do mesmo ano, uma vez concluídos os trabalhos e depois de alguns dias de veneração, os sagrados restos foram novamente encerrados no sarcófago e protegidos por um moderno sistema de segurança”   

Trata-se do quarto sepultamento de São Francisco de Assis. 

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  1. Notícias e citações extraídas do livro “Pelos caminhos de Francisco de Assis”, de Frei Fernando Uribe, FFB, páginas 82; 90 a 92.





No túmulo do Pobre de Assis, o Papa Francisco assina sua Encíclica, “Fratelli tutti”, datada de 3 de outubro de 2020, dedicada à fraternidade universal e à amizade social 


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