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O Ministro Paulo Monteiro

 O Ministro Paulo Monteiro 

O século XX, na Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência da Cidade de São Paulo, foi dominado pela presença marcante do Ministro Paulo Monteiro. Tendo professado em 15 de setembro de 1918, adotou o nome de Vital dos Mártires. Indicado Síndico (Tesoureiro) em 1930, a partir de 30 de setembro de 1934 foi eleito e reeleito sucessivamente para o cargo de Ministro, que exerceu até a morte em 17 de março de 1972. Foram cinquenta e quatro anos de profissão e trinta e oito anos como dirigente da Ordem. As suas realizações são impressionantes. 

Ao assumir o cargo de Ministro, herdou décadas de discussão sobre o melhor modo de aproveitamento do terreno que a Ordem possuía, ocupado apenas por um galpão para vestiário dos terceiros. A Fraternidade não dispunha de qualquer recurso monetário para investimento. Confiantes em sua capacidade, os Irmãos outorgaram-lhe plena decisão e direção do empreendimento. 

Com rara felicidade administrativa e aproveitando as circunstâncias da época, o Ministro Paulo Monteiro obteve em 1941, mediante hipoteca do terreno da Ordem, um empréstimo da Caixa Econômica Federal, no valor de 1.800.000$000 (mil e oitocentos contos de reis), pagável durante 10 anos, com juros de 9% ao ano. De posse do numerário, contratou, por licitação, a empresa Sociedade Arnaldo Maia Lello Ltda. Pelo valor parcelado de 1.979.000$000 (mil novecentos e setenta e nove contos de reis) para construção dos oito andares do Edifício Frei Sant’Anna Galvão e dos quatro andares do Prédio dos Vestiários e Refeitório dos Irmãos. 

A preparação do terreno começou em 04 de junho de 1941. O lançamento da pedra fundamental ocorreu em 17 de agosto de 1941, dia de São Roque, com enterramento de urna contendo Ata em pergaminho, moedas e jornais do dia. 

Como soe acontecer em contratos de construção, houve necessidade de aditamento de despesas, atendida por segunda hipoteca, em dezembro de 1942, no valor de 250.000$000 (duzentos e cinquenta contos de reis) para complementações e acréscimos de um nono andar ao Edifício Frei Sant’Anna Galvão. Uma terceira despesa, no valor de 100.003$000 (cem contos e três mil reis) teve seu pagamento equacionado pela venda de três pequenas casas que a Ordem possuía na Rua Jesuíno Paschoal, pelos juros de letras referentes à venda para a Prefeitura de um terreno no Cemitério do Araçá, por doações e arrecadação dos Irmãos, provenientes de coleta e venda de materiais recicláveis. 

Um ano e meio após o início das obras, estavam concluídas as edificações. O Prédio dos Vestiários foi inaugurado em 03 de janeiro de 1943, festa do Santíssimo Nome de Jesus, com cerimônia presidida pelo grande amigo da Fraternidade, Dom José Gaspar de Affonseca e Silva (Araxá, MG, 06/01/1901 – Rio de Janeiro, 27/08/1943), ele mesmo Terceiro Franciscano. 

O Ministro Paulo Monteiro obteve sucesso na negociação do arrendamento do Edifício Frei Sant’Anna Galvão para a própria Construtora, por 15 anos, a partir de 26 de janeiro de 1943, liquidando as pendências da construção e passando a pagar com o produto dessa transação as parcelas do empréstimo bancário. 

Como resultado dessa engenharia financeira e administrativa, no Relatório Trienal de 1943-1946, com satisfação o Ministro Paulo Monteiro podia dizer: “Nada devemos a quem quer que seja, estamos com nossos compromissos em dia. Todos os encargos do empréstimo bancário, suas prestações e todos os impostos se acham perfeitamente em dia e todos pagos”. 

Decorridos os 15 anos do arrendamento, a Ordem pode tomar plena posse do Edifício Frei Sant’Anna Galvão sem qualquer ônus restante. 

Infatigável, o Ministro Paulo Monteiro, também Cavaleiro da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, fundada pelos cruzados em 1103, organizava anualmente concorridas “Semanas Franciscanas”, com oradores de prol, para propaganda da Fé Cristã, da Ordem Terceira e de sua espiritualidade secular. Enquanto atentava para a formação do patrimônio Imobiliário da VOT, dirigia com pulso firme, em seus melhores tempos, o Externato São Francisco, e desdobrava-se no esforço pelo restauro da Igreja das Chagas, de seu telhado, do assoalho, da pintura e decoração da cúpula octogonal e dos altares.  

O pesquisador Eduardo Etzel, em visita à Igreja, por volta de 1970, pode acompanhar os trabalhos de restauração dos altares da Nave, sendo executados então por Waldemar Teixeira Chaves, à época com 53 anos, que desde os 8 anos acompanhava os serviços do pai, Carlos Teixeira Chaves, Mestre dourador formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Por ocasião da visita de Etzel, haviam sido completados, durante 7 anos, os serviços de douração do retábulo do Altar da Imaculada e em 17 anos a douração do retábulo do Altar-Mor. Evidentemente o processo era minucioso, lento e intermitente, até pela dificuldade de aquisição dos materiais necessários: folha de ouro, cola de nervos de coelho, bolo armênio, gesso especial. O trabalho alcançou inegável sucesso. Como anotou o pesquisador, os serviços já concluídos no Altar da Imaculada e no Altar-Mor propiciavam “uma oportunidade rara de se observar um templo barroco hoje como o fizeram os antigos no século XVIII” (ETZEL, Eduardo, “O Barroco no Brasil”, Melhoramentos, 1974, p. 293). 

Ao final de seus Relatórios Trienais, com razão o Ministro Paulo Monteiro podia sempre concluir: 

“Tenho a minha consciência tranquila, tudo fiz e a tudo me sacrifiquei para o maior bem estar da Ordem e de todos nós. Estou certo de poder contar com a vossa generosidade e indulgência pelas minhas faltas e pelo que não pude realizar. Ainda uma vez reconhecido sou de todo coração, pela confiança que tiverem depositado na minha pessoa, sem quebra de continuidade e nos meus fracos préstimos. Se alguma cousa tiver feito a mais, isso pertence exclusivamente a Deus Nosso Senhor, pois nós somos apenas o seu instrumento e nada mais”. 

A tocante exortação que costumava dirigir ao final das prestações de contas de sua administração em nada perdeu a pertinência: 

“Terminamos exortando a todos nós para que sejamos bem franciscanos, bem unidos na maior paz e harmonia como deseja e quer nosso Grande Pai Seráfico, a fim de que possamos realizar grandes cousas no campo espiritual e material, para maior glória de Jesus Crucificado, de Nossa Mãe Imaculada Conceição e de Nosso Pai Seráfico”. 

Na Ata de 15 de abril de 1972, manifestando seu reconhecimento ao Ministro Paulo Monteiro, os Irmãos gravaram em distintivo lapidar:  

“Viveu por inteiro a vida da Ordem, enquanto que toda a Ordem era a sua própria vida”. 

Edmilson Soares dos Anjos          




  Fotografia de Paulo Monteiro em 19 de Abril de 1959


 

 

         

Comentários

  1. Parabéns irmãozinho Edmilson, pelo texto maravilhoso. Perfeito em sua narrativa. Gratidão. Paz e Bem.

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  2. Vida dedicada ao Carisma de São Francisco Assis! Exemplos que devemos imitar como parte desta família de Irmãos e Irmãs professos(as) da OFS.
    A literatura dos Santos e Santas

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