No calcanhar de Maria
O Calvário foi uma ratoeira gigante que Deus preparou
para apanhar o demônio.
A isca era seu Filho, puro humano sem defeito.
Ao fazer morrer Jesus, como a qualquer homem fazia,
aconteceu o que Deus previa: o demônio extrapolou,
estendendo cruel braço além do que devia.
Quando Jesus expirou, ao som do grito profundo,
seu Espírito luzia, vivo e claro como o sol.
Quem caiu foi o demônio, derrotado ao pé da cruz,
pelo engano que cometia,
aplicando a pena de morte ao Deus que não morria.
E logo a Virgem Maria — que é a imagem da Igreja —
pisou a cabeça do dragão, que estremece até hoje,
causando esta agonia que o mundo todo padece.
E eu que sou da Igreja uma parte, a mais pequena,
certamente me componho
no calcanhar de Maria,
que o demônio tenta morder
e lanha com os cruéis dentes da sua boca sombria.
Hoje minha alma está fria, no nada jaz meu coração,
e eu me sinto desgarrado como um fiapo de carne da Igreja
entre os dentes do dragão.
Quando terminar a batalha com a vitória do Deus Forte,
antes que se precipite o demônio
no fogo da segunda morte,
não se esqueça Jesus Menino de palitar a dentadura
daquela boca sombria
— a ver se lá resta um pedacinho
do pé da Virgem Maria.
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