Pular para o conteúdo principal

Um Terceiro Franciscano acolheu Santo Antônio em seus últimos dias

 Um Terceiro Franciscano acolheu Santo Antônio 

em seus últimos dias 


No Prefácio de seu livro “Santo Antônio de Lisboa Militar no Brasil” (1942), o intelectual católico e homem público brasileiro, José Carlos de Macedo Soares, procurou retratar física e espiritualmente o Santo dizendo que: 

“... na cruzada albigense ou na própria Itália, especialmente em Pádua, frei Antônio prosseguiu espantosa e rutilante carreira de pregador sacro. Sua eloquência atingia paroxismos de emoção religiosa. Sendo, no fim da vida, homem extraordinariamente gordo, afrontado na obesidade, humilde e esconso no trato comum — assomando à tribuna transfigurava-se, improvisava acordes que a ele próprio surpreendiam. O timbre suave e ardente de sua voz arrebatava. A fluência envolvia os auditórios estarrecidos. A força e a sugestão das imagens esmagavam a mente das multidões fascinadas. O seu conhecimento torrencial das Escrituras abria-lhe novos caminhos ao pensamento cristão, dando sempre realce às ideias morais, que recomeçavam a clarear nesse tempo a consciência universal”. 

“Santo Antônio foi santo ainda em vida. Os seus coevos viam-lhe o amor a Deus. Seu corpo disforme e molesto, era, ainda assim, o cibório de uma presença divina”. 

Nesta citação, destaca-se, com toda propriedade, o surpreendente e profícuo trabalho de pregação efetuado por Santo Antônio, seu maravilhoso conhecimento das Sagradas Escrituras, o testemunho pessoal de sua vida e a fama de santidade que já o aureolava bem antes de sua morte. 

No entanto, mesmo descontando excessos literários (“extraordinariamente gordo, afrontado em sua obesidade”), que na atualidade poderiam ser inquinados como expressões de gordofobia, deve-se notar que Santo Antônio, no período final de sua vida, desde 1227, padeceu de hidropisia, doença comum à época, fatal também para São Francisco, motivada provavelmente por deficiência alimentar, causando disfunção do sistema digestivo, inchaço, edemas, disformidade corporal e dificuldade de locomoção. 

No início de maio de 1231, sentindo agravar-se a enfermidade, Santo Antônio manifestou a um amigo muito próximo, o Conde Tiso, o desejo de recolher-se a um eremitério. Ora, o Conde Tiso, convertido pelo Santo, ingressara na Ordem Terceira Franciscana e, observando fielmente a Regra da Penitência de 1221, renunciara ao uso de armas e aos embates guerreiros, dispusera seus bens aos pobres, dispensando mesmo as luxuosas vestes que usava e adotando o tosco hábito dos Terceiros. Há anos oferecia o castelo da família Tisone, em Pádua, para hospedagem do Santo. E, desta feita, com grande alegria, providenciou imediatamente a construção de um abrigo para o retiro do Santo entre os galhos de uma enorme nogueira que vicejava na propriedade familiar de Camposampiero, a 18 quilômetros de Pádua, já povoada por alguns eremitas. 

Para lá deslocou-se logo o Santo, acompanhado por dois frades que dele cuidavam e o ajudavam a subir e descer a escada de acesso ao abrigo, onde permanecia em constante oração e meditação, escrevia seus sermões e recebia penitentes. 

Numa sexta-feira,13 de junho de 1231, sentindo acercar-se a hora final, o Santo pediu para ser levado a Pádua, pois desejava ser sepultado na Igreja de Santa Maria Mater Domini. Foi transportado sobre palhas numa carroça de boi, porém, alguns quilômetros à frente, veio a falecer, assistido pela oração dos confrades, em uma pausa da viagem, no convento das pobres Clarissas de Arcella. Suas últimas palavras foram: “Vejo o meu Senhor”. Tinha 36 anos.  

O mesmo Conde Tiso testemunhou que, durante a hospedagem, tendo percebido uma luz estranha entre as frestas, olhou e viu Santo Antônio com o Menino Jesus nos braços. Intimado a nada contar do que vira, o Conde guardou segredo do evento milagroso até a morte do Santo. 

Desta forma, o Irmão Tiso de Camposampiero, representando a Ordem Terceira Franciscana, não só abrigou Santo António de Lisboa e de Pádua em seus últimos dias, como também deu origem à devoção que anima pelos séculos afora a iconografia do grande pregador, retratando o apreço franciscano à Encarnação do Filho de Deus e a doce e inseparável intimidade entre Santo Antônio e o Menino Jesus.  

Edmilson Soares dos Anjos     





                                    Santo Antônio com o Menino Jesus

   

Comentários

  1. ... A VIDA DE SANTIDADE TEM NISTÉRIOS
    E TESTEMUNHOS!...

    ResponderExcluir
  2. Digo, mistérios
    E testemunhos...

    ResponderExcluir
  3. E muito agradável conhecer a vida de um santo, considerando sua vitória final. E Santo Antônio foi muito feliz já em vida, por sua vida de união com Jesus.

    ResponderExcluir

Postar um comentário