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Papa Francisco abre o Sínodo sobre a Família

Começou nesta segunda-feira, 6 de outubro, no Vaticano, os trabalhos da 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo, cujo tema é: “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”. Oficialmente, o Sínodo foi aberto ontem, domingo, durante a celebração eucarística que reuniu no vaticano as autoridades eclesiásticas e demais participantes que farão parte desta assembleia sinodal na qual também serão tratados outros temas "urgentes", como a pobreza, a imigração e a violência. Os encontros terminarão no dia 19 de outubro, com a beatificação do papa Paulo VI, que, além de concluir o decisivo Concílio Vaticano II, instituiu o Sínodo dos Bispos.

Nesta segunda-feira, o Papa deu as boas vindas aos bispos e destacou também a responsabilidade dos padres sinodais na sua saudação inicial. “Levar as realidades e as problemáticas das Igrejas, para ajudá-las a caminhar naquele caminho que é o Evangelho da família”.

Uma condição de base nesse processo é falar claramente, disse o Papa, tudo aquilo que se sente com parresia (palavra grega que remete à coragem, ao destemor de dizer a verdade). Ele contou que, após o Consistório de fevereiro deste ano, recebeu uma carta de um cardeal, em que este se lamentava pelo fato de alguns cardeais não terem tido coragem de dizer algumas coisas, sentindo que talvez o Papa pensasse algo diferente.

Segundo o Papa, esta não é uma atitude boa, pois é preciso falar com clareza, sem temores. “Ao mesmo tempo, deve-se escutar com humildade e acolher com o coração aberto o que os irmãos dizem. Com essas duas atitudes se exerce a sinodalidade. Por isto, eu vos peço, por favor, essas atitudes de irmãos no Senhor: falar com parresia e escutar com humildade”.

Francisco também mencionou o espírito de colegialidade que reveste a reunião de cardeais, patriarcas, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos para o bem da Igreja e das famílias. Esta sinodalidade foi desejada pelo Papa desde a eleição do relator, do secretário-geral e dos presidentes delegados. Os dois primeiros são eleitos diretamente pelo Conselho pós-sinodal. Já os presidentes delegados são escolhidos pelo Papa, mas Francisco pediu que este mesmo Conselho propusesse nomes. “Eu nomeei aqueles que o Conselho me propôs”, contou.

O Pontífice lembrou, ainda no domingo, que as assembleias sinodais "não servem para discutir ideias brilhantes e originais, ou para ver quem é mais inteligente". "Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor".

O Papa enfatizou a responsabilidade do clero de cuidar da família, mas alertou que também os membros da Igreja podem ter "a tentação de se apoderar" da sociedade. "O sonho de Deus sempre confronta a hipocrisia de alguns servidores seus. Podemos frustrar o sonho de Deus se não nos deixamos guiar pelo Espírito Santo", acrescentou.

Nesta assembleia sinodal participarão 253 pessoas, entre bispos, presidentes de Conferências Episcopais de todo o mundo, chefes de Iglesias católicas orientais e membros da Cúria Romana.

DIVORCIADOS RECASADOS

O relator geral do Sínodo sobre família, Cardeal Péter Erdó, apresentou um relatório na 1ª Congregação Geral realizada nesta segunda-feira, 6. O documento dedica uma parte ao tema dos divorciados recasados, às convivências e casamentos civis.

“Os divorciados recasados civilmente pertencem à Igreja, precisam e têm o direito de ser acompanhados por seus pastores”, disse o cardeal na leitura do relatório. O documento assinala ainda que muitas contribuições enviadas pelas Igrejas locais reiteram a importância de levar em conta ‘a diferença entre quem rompeu o matrimônio e quem foi abandonado’, sugerindo que a Igreja cuide deles de modo especial.

“Em cada igreja deve haver um sacerdote ‘devidamente preparado, que possa prévia e gratuitamente aconselhar os casais sobre a validez de sua união’. Depois do divórcio, esta verificação deve prosseguir no contexto de um diálogo pastoral sobre as causas do fracasso do matrimônio precedente, identificando as razões da nulidade. Se tudo isso se der na seriedade e na busca da verdade, a declaração de nulidade libertará as consciências de ambas as partes”.

Neste campo, o Sínodo vai trabalhar na hipótese de que, em certos casos, o próprio bispo diocesano possa formular uma declaração de nulidade matrimonial, em via extrajudicial.

O relatório sublinha ainda que “seria desejável que o Sínodo olhasse além da esfera dos católicos praticantes e, considerando a situação complexa da sociedade, tratasse das dificuldades sociais e culturais que pesam na vida matrimonial e familiar”.

“Os problemas não se referem apenas à ética individual, mas a estruturas de pecado hostis à família, em um mundo de desigualdade e de injustiça social, de consumismo por um lado e pobreza do outro. As rápidas mudanças culturais, em todos os âmbitos, empurram as famílias para um processo que coloca em dúvida a tradicional cultura familiar e muitas vezes, a destroi. Por outro lado, a Família é quase a última realidade humana acolhedora neste mundo dominado exclusivamente pelas finanças e a tecnologia. Uma nova cultura de Família pode ser o ponto de partida para uma nova civilização humana”.

Segundo este relatório apresentado por Dom Erdó, o maior desafio desse Sínodo é dar respostas “reais e impregnadas de caridade” aos problemas que, de forma especial nos dias de hoje, atingem a família.

O documento aborda ainda outros temas, como o Evangelho da família no contexto da evangelização, as pastorais familiares e o Evangelho da vida.

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